terça-feira, junho 15, 2010

Vidas (Em)cruzadas) - Ressacas IX

Ela… penso eu que não sabe, mas a Palmira - essa parte sabe - por onde passa deixa tudo boquiaberto, porque é mais bonita, mais perfeita que a menina do Martins ou será da Martini? Adiante… naqueles dias em que eu ando mais irritadiço ela descontrai-me e sigo-a, vou pela cidade, pelos centros comerciais, vou atrás do seu cheiro, do seu perfume de menina, quer dizer de mulher, daquele perfume que as mulheres lindas emanam. Não vos passa pela cabeça o que eu sinto… mas não estive, nem estarei apaixonado por ela, isto é só uma visão desinteressada, clara e desapaixonada, é?! Ora Porra cala-te! Ou por outra, não penses nisso.
Bom, vou andando por aí a sonhar com o que podia ter sido e que parece irremediavelmente perdido.
Mas tudo isto para falar daqueles machões de meia-idade que se babam quando vêem uma mulher bonita e mandam aquela “bocas” horrorosas que nem piropos chegam a ser!
Um dia ouvi um que até me fez doer a alma. Mas lindo… teve resposta imediata e à altura… tudo porque ela levava aquelas botas até ao joelho, só de olhar até arrepia, estão a ver, não estão?
Pois eu já me arrepiei 2 vezes…
- Oh boa, onde está o cavalo? - diz o palhaço.
- Está a dormir com a puta da tua mãe. - Responde a Palmira com uma elegância digna de uma Deusa.
Depois, acho que ele não gostou e tentou, tentar tentou… ir atrás dela, mas não aconteceu porque eu, EU, estão a ver, tipo super-herói, saí da sombra vindo do nada, vindo da penumbra, sem ela a donzela perdida e insegura e frágil, sem ela se aperceber… fui defender a minha donzela, a minha… - eu não estou a dizer isto, ela odeia-me e eu também, ih ih ih - a minha amada.
O que aconteceu a seguir? Aconteceu o incomum, não o normal, mas sim o incomum, o oposto do que acontece aos príncipes que defendem as donzelas… Ali era cada salto que dava, era cada estalo que levava, mas fui firme nas minhas convicções de defender a minha… ok, percebem, e continuei com fé a defendê-la com… pois, em vez de unhas e dentes, muita cara negra. Fartei-me de levar porrada, mas como diz o povo, quem corre por gosto não cansa e lá continuei todo marcado, parecia o mapa mundo com a Austrália bem vincada no meu olho direito - nem parecia a Austrália, pois sempre tive em conta que a Austrália é um país aberto, mas estava demasiado fechado, mas fazia jus aos aborígenes - negrinho da silva.
Teria muito para falar da Palmira e teria muito mais se não tivesse sido estúpido, tivesse, claro, tivesse e sou, mas tenho de aprender a viver com isso e com a minha estupidez mental, mas porque hei-de eu de me preocupar? Mesmo assim tenho uma bela dádiva, duas, claro que são duas, morar no prédio dela… e ela, ao que sei, não namorar com ninguém, pelo menos que eu saiba, que eu veja, que isso transpire para a minha imaginação.
Eu sabia… desde aquele dia, daquela tarde, que a bela Palmira, que de parva não tinha nada… desbravava terreno para a pancada final e que pancada… já durava há dez anos, dez longos e horrorosos anos... dez anos é mesmo muito tempo para uma vingança.
Ao mesmo tempo que penso nisso, assola-me um sorriso… um sorriso malicioso, não malicioso, um sorriso sacaninha, adoro sorrir assim, sinto-me o Harrison Ford da Picheleira, uma espécie de Teresa Guilherme, mas em versão masculina e não tão minimalista.
Lembrava-me… Ah! Porra… já me esquecia do envelope que a mãe da Palmira me veio entregar, pois era a mãe da Palmira, chama-se Dona Henriqueta. Diz o envelope: para o Sr. Vasco, esse sou EU, que coisa tão formal, deve estar alguém para morrer, além do envelope ser estranho, também estranhei o pedido da Dona Henriqueta, se tinha um “guronsan” que lhe dispensasse, que raio de coisa para dispensar! Mas antes isso que um par de cuecas ou peúgas, não que não emprestasse ou que o pedido fosse insólito ou descabido, mas é que as peúgas que por aqui coabitam comigo parecem mais daquelas coisas que as mulheres usam nas aulas de aeróbia. Nunca percebi porquê, porque usam elas aquelas meias, deve ser por terem frio nos tornozelos, mas enfim. As minhas peúgas são assim um enorme buraco, uma imensidão de vazio, talvez por isso o cheiro nunca se pegue às meias, fica logo directamente ligado, em união de facto, aos ténis ou aos sapatos, nada de muito importante, mas muito mau cheiroso, o chamado pivete infernal. Aliás, se fosse realizador de cinema adoraria fazer um filme que se chamasse “ O Pivete Infernal, smell mortal”, para aí com o Norris, o Caldo e com o Estaladas, o Silvestre… não o gato.
Mas aquele pedido é estranho, muito estranho, a Dona, a mãe da Palmira, é abstémia, creio eu. Nestes dias de hoje é melhor não dar nada por certo… também acho que não fuma, para que quereria ela um desintoxicador etílico, ou por outras palavras, um tira ressacas, um amigo inseparável?
Mas teimo sempre em pensar atrasado, em não me lembrar que poderia ser para outra pessoa, pois claro, para a Palmira. Eu sei que é de propósito, não podia mesmo por duas razões, a primeira porque não devo pensar muito nela, porque não devo, porque me faz mal e além do mais faz-me calos na mão esquerda. A outra razão é que se andou na borga poderia ser pela mesma razão que eu, uma despedida de solteiro ou coisa do género… Estou ainda na escuridão, tudo muito escuro e enevoado em relação ao que aconteceu no dia anterior, não faço a mínima ideia, nada de nada, “rien de rien”, estou na perfeita amnésia, só mesmo palpites, mas tudo menos tripla, empate também não dá jeito nenhum, o que dava jeito sei eu o que era!? Mas não tenho a mínima hipótese… isso é que era bom.

Apeteceu-me


"Nem sempre o primeiro olhar é o primeiro amor" Charles de la Folie

1 comentário:

Natural.Origin disse...

Nice...
"Nem sempre o primeiro olhar é o primeiro amor"

"True."