terça-feira, julho 27, 2010

Vidas (Em)cruzadas) - Pancada V

Grande susto enquanto estava aqui neste meus pensamentos de luta com a cama, a minha mãe chegou e mais uma vez me obrigou a privar da sua companhia e de seus beijos. Veio dizer-me que ia sair, mas que já vinha. Nem tempo tive para lhe perguntar se há garrafinhas milagrosas… estranho… ia com alguma pressa… Ela não costuma andar assim tão depressa, ou será impressão minha!? Talvez seja, nada que mate… estranho, estranho mesmo, para não dizer muito estranho, é que ela leva um envelope, e ao que me parece diz “Sr. Vasco”, ou “para o Sr. Vasco”, deve ser algo importante, mas Vasco?! Vasco?... Ora espera, nããoooo… não acredito! Não acredito mesmo… Sr. Vasco… não é de certeza para o louco insano e deficiente mental, não pode ser… deixa-me rir, mas… de qualquer forma já pergunto à Dona Henriqueta, penso que aquela carta deve ser a razão desta minha dor de tola, de mona ou do raio que a parta.
Que se lixe, a grande verdade é que nem para um berro, um grito à minha mãe tenho coragem… tenho muito medo que a cabeça me salte para algum lado, quem sabe menos conveniente se é que isso existe.
Enquanto nada acontece o melhor é tentar desvendar estes meus mistérios de uma noite atribulada, pelo menos se não foi deveria ter sido, mas por osmose… não foi por certo. Posso tentar chegar lá pelo hálito, mas é um cheiro terrível a tabaco, misturado com pasta de dentes e álcool… e depois sai tudo aqui do meu interior, chega em forma de arroto, que coisa, que horror mesmo. Não falo daquele interior, profundo e bom, aquele interior muito cristão, esse interior não faço a mínima ideia de onde surge, penso que tinha de ser mesmo lá do fundo, mas digo eu aqui que ninguém me ouve, que esse fundo a maior parte das vezes… Não! Não vou dizer, é melhor não, até porque não é esse fundo que faz parte do imaginário colectivo, é um outro fundo, do fundo sei lá de onde, devia ser das antípodas do outro fundo ou será do fundo social de coisa alguma?!
Adiante, outra das coisas que me interrogo é mesmo se as outras raparigas são assim como eu, ou se eu sou a excepção à regra. Tenho dúvidas se há muitas miúdas iguais a mim, com a mesma maneira de ser, de falar, de sentir, de fervilhar, de dizer, acreditem que eu sou muito durona. Lá no interior, sei que lá naquele fundo… às vezes choro por estas coisas, quer dizer… choro e não choro, alivia-me a alma. Estes pensamentos cada vez estão piores, acho que estou com a puta da emoção à flor da pele, a emoção e a comoção se é que isso existe e sei lá mais o quê...
As coisas que me lembro, estou aqui a recordar que para aí no meu 6º ano, estávamos ou andávamos todos a discutir na aula, aquelas conversas facciosas e sectárias, as do costume, tipo: que o homem é melhor que a mulher, que a mulher faz isto e tem bebés, que o homem tem “bobos”, tem o quê?! Claro que tem e estúpido para aqui, parvalhão para ali, mentecapto para ali, fuinha para acolá e eu lembro-me de dizer:
“Vocês têm a mania que são espertos e inteligentes, ainda gostava de saber quais são as vossas conversas entre rapazes”, à qual o Vasco respondeu:
“São as mesmas que as vossas, porquê!? Devem pensar que são as supra-sumo da batata!”.
E lembro-me que me saiu assim um:
“As mesmas que as nossas?! Ai que ordinários!”.
Ainda hoje me gozam por causa dessa história, mas tudo isto ou isto tudo, para dizer que eu posso ser assim meio… abrutalhada… pouco feminina nos actos, mas não devo ser a única… mas sou boa pessoa, sou sim, só posso ser, porque não havia de ser boa pessoa?! Sou sim!

Apeteceu-me


"Sempre que o instinto nos provoca, arremessamos com o destino ao acaso" Charles de la folie

1 comentário:

Margarida disse...

E o dito do destino dá com cada volta!