
(...) O meu medo era não conseguir segurar as pontas, mas não havia de ser nada, apesar do meu ar jovem, já tinha alguns anos de experiência, o que me dava alguma tranquilidade. O meu pouco e pequeno nervosismo só tinha a ver com, aquela história era mais ou menos um drama familiar, para mim, aquela era a minha verdadeira família. Olha que giro, podia ser a Drª Mónica e os seus dois amantes, em versão paroquial. Aqui no nosso prédio só faltava mesmo um padre, o mais parecido que tínhamos, era mesmo, pois acho que não temos nada parecido como um padre, podia ser a Dona Henriqueta, mas acho que ela debaixo daquele seu ar angelical esconde muita coisa, ai esconde, esconde era capaz de meter as minhas mãos no fogo como ela esconde para ali muita coisa. Enfim, cada qual é livre para fazer e ser como quer. Agora o melhor é começar a arrumar esta sala, porque isto assim, dá mau aspecto entrarem por aqui e verem este arsenal sexual, o que iriam pensar, ah ah, que afinal sou vendedora de uma sex shop ou que tenho uma sex shop em casa.
Mas ante de arrumar isto o melhor é fumar mais uma ervinha do meu amigo Pilitas e beber um belo e grande café, devia de ser injectada com cafeína, a ver se deixava de beber tanto café, isto dá-me cabo do sistema, nervoso não, do meu sistema, de ar condicionado, o café faz-me flatulência, não me perguntem porquê, mas dá-me.
A coisa que mais adoro, é beber um café logo de manhã fumar uma broca e ai vou direita a casa de banho, é quase tiro e queda, é outras das coisas que não me perguntem porquê, mas é assim mesmo, e depois é ler até me aborrecer, muito gosto eu de estar na casa de banho a ler, é tão bom, tenho lá sempre um belo livro, daqueles tipo história de cordel que se lê nas calmas, e tenho outro livro daqueles, só com provérbios, adoro provérbios, se pudesse instituía o dia do provérbio, nesse dia só se podia dizer frases feitas, tipo: “quem deixa o certo pelo incerto ou é tolo ou é pouco esperto” ou então “com a mulher e com o dinheiro não zombes companheiro”, costumo rir-me que nem louca aqui, a ler esta coisas, e depois inventos os meus próprios, mas nada de muito especial, hehehe. Tipo: “Mais vale a ementa que o cimento” ou “ agua dura em pedra mole tanto fura que até que bate” coisas do género, mas enfim, a vida é feita de pequenos impulsos, e o meu impulso nesta altura era mesmo arrumar esta coisa toda, e fumar uma broca e dar um giro ali ao meu consultório para aliviar esta pressão, isto é uma forma de dizer que eu não tenha nada a pressionar-me agora mas mais logo espero. O melhor agora é meter já umas garrafitas de vinho branco e um champanhe no frigorifico, ver onde estão os números de telefone da comida feita, que eu não tenho paciência para cozinhar, nenhuma mesmo hoje quero mesmo é ter todo a jeito, para ver o que vai acontecer o que vamos fazer ao menino, ao meu Vasquinho ao meu querido e imaculado Vasquinho.
Vou ver se acordo o energúmeno e o mando embora durante 3 dias, a minha sorte é que ele vai se eu disser a ele para ir para a nossa casa, de campo vai a uma velocidade que nem vos conto, odeio acorda-lo, porque só meia hora depois é que posso dizer alguma coisa, ele já não é muito perceptível com aquele sotaque, meio sopinha de massa, com aquela língua enrolada de quem veio das colónias, e que ainda por cima foi imigrante.
Agora imaginem o energúmeno que já não é muito perceptível, a querer falar e as palavras a não saírem, e verter assim uns fluxos de coisa alguma, parece um gato, quando quer dizer alguma coisa e só sai aquele fssssss. Mas acho que ouve, este para ser completo só faltava mesmo ser gago, ai é que devia ser lindo com aquelas dificuldades todas e ainda por cima gago. Quer dizer teria a sua piada, na medida que cada vez que quisesse responder, demorava tanto tempo que já estava a milhas, o melhor é mesmo ir lá dar um berro, ou então fazer o numero do costume, gritar a dizer que há fogo, ele cai sempre nessa parece um maluco, e hoje está mesmo a jeito para isso está nú, boa, boa ai vou eu, deixa-me só abria a porta da rua.
- OH pá esta merda está a arder toda, foge, foge, estão ai os bombeiros.
- Ãnh,ãnh???!!! Porra, porra, ai meu deus.
Tiro e queda, agora é só fechar a porta, e ir a janela vê-lo todo nú na rua.
Apeteceu-me"Não há certezas no nosso caminho, mas é nas dúvidas que avançamos" Charles de la Folie