sábado, maio 14, 2005

O RISCO (equilibrio)

O risco (equilibrio)



(...) O risco era demasiado.. demasiado grande para o prazer que se pretendia. Naquela altura, o vento corria pela sua face, o cabelo alinhado soltava-se para a frente dos seus olhos, as sobrancelhas mantinham-se de maneira uniforme, mas que naquele momento serviam mesmo para amparar, o suor. O seu corpo parecia rigido, como quem está morto, petefricado, só o seu tom avermelhado, não deixava duvidas, estava vivo, os seu olhos estavam quase inertes... concentrados com o que viam, e com o que fazia.
Notava-se nas suas feições que era uma pessoa calma, aliás tinha mesmo que o ser, o risco que corria não combina com a falta de calma, com inquietações despropositadas, com reacções bruscas.
Esra uma pessoa compacta, era pequeno, mas compacto, com um corpo musculado, era um corpo atlético.
Desde pequeno, que treinava, treinava horas e horas a fio, era a sua vida, a vida da sua familia, vinha de geração em geração, desde há muitas gerações, era a vida, a sua vida, a vida que tinha sido escolhida há já muito. Enquanto olhava para o horizonte com aquele ar compenetrado, as imagens que lhe iam directas ao cérebro, eram recordações de outros tempos, de outras vidas, na longicua mas linda Mongólia, naquelas estepes entre o gelado e o degelo, onde a vida continuava pura e serena, onde a comida, sabe a comida, o amor sabe a amor, onde as lágrimas sabem a mar e o suor cheira a prazer e sexo.
Gostava de pensar debaixo daquela tensão, na sua terra, na sua aldeia, não pensava na sua familia, porque estava com eles, por onde um andava estavam todos, era um clã a maneira antiga, mas em pleno seculo XXI.
Lembrava-se por vezes da neve que caia, dos 23 graus negativos, mas isso não importava, era outubro, e em outubro o que interessava, no vale de Darhad era levar os rebanhos até ás pastagens de Inverno. Durante seculos, a caminhada feita duas vezes por ano, moldou a vida nómada daquelas paragens e terras que tantas saudades lhes deixava. Ele amava- a tanto como a temia.
Ele via e sentia, e sabia que há muitas gerações que as famílias atravessam as montanhas do Norte da Mongólia, uma caminhada que provocou e provoca ainda hoje a morte de muitos caminhantes, de muitos amigos e familiares seus. Quando o Outono desce sobre o vale de Darhad, centenas de famílias carregam os bois e partem, conduzindo ovelhas, cabras e vacas para os acampamentos de Inverno, onde a erva é suficientemente alta para manter as manadas até à Primavera e a temperatura se mantém uns bons dez graus mais elevada. Entre o vale e os acampamentos de Inverno, eleva-se uma muralha de três mil metros, cujos picos cobertos de neve podem ser tão belos como brutais.
E ali estava ele, 500 metros acima de qualquer coisa, por baixo era um abismo, um autentico abismo, um buraco sem fim que ele não conhecia o segredo, era nunca olhar para baixo, com uma enorme vara de equilibrio nas mãos lá ia ele, pé ante pé, devagar, para chegar ao fim daquele interminavel cabo de aço. No fim a glória, a glória daquele dia, porque depois , vinha mais um, e mais um, e mais outro. Os dias eram infidaveis mas a sua capacidade de se equilibrar também, aliás o risco e o equilibrio era lema da sua familia, morreu mais gente a atravessar o vale de Darhad, do que a atravessar os seus cabos de aço.
Era a vida de nómada a procura da sobrevivência, a procura de se encontrar, a procura, de muitas coisas, que se encontram no deslizar de cada passo que se dá no dia a dia. As sua sabrinas, já estavam acostumadas aquele deslizar que não pode escorregar, a minima escorregadela, sabe-se que é a morte do artista.

Apeteceu-me

"O equilibrio é a essência da nossa liberdade"
Charles de la Folie

quarta-feira, maio 11, 2005

(Fogo) Cruzado X

(Fogo) Cruzado X



(...) Mas os chineses nem todos são assim pacientes, não são não, basta ir a um restaurante chinês, e pedir ao “ senhole um plato, tipo o numelo telinta e tlês, e agladecele com um glande obligado” que ele ficam logo a carburar mal, e depois se rematares com um “está certo ou Alberto” eles ficam piursos, ficam a deitar fumo por todos os poros, mas a que propósito vêm agora para aqui o raio dos chineses? Pois claro, vi logo que não vinham para aqui fazer nada, eles só são mesmo o verbo encher, porque são tantos e, pois muitos e todos com a mesma ideia, a mesma não eles têm duas ideias, uma é abrir um restaurante a outra é abrirem uma loja de chinesices, aquelas lojas que têm tudo a preços fantásticos, onde compras até, sei lá o quê baratíssimo e que não serve para nada, mas têm graça e foi barato.
Bom mas chinês a parte, porque não começar a pensar o que vai acontecer aqui neste prédio quando o Vasco ler aquela magnifica prosa em forma de literatura poética, pois penso que isto não faz sentido algum, mas o que nesta altura faz sentido, nada faz sentido, nem aquela algazarra que vai por ali na escada, parece a Dra Mónica e a Bestinha, claro o marido este é o temo mais carinhoso que me lembro numa altura desta, a besta... até que não é um mau nome e soa bem, será que ele merece o termo de besta? Não, coitadas das bestas, as bestas merecem muito mais que isto, aquele era mesmo um energúmeno, podia-lhe chamar endemoninhado, mas era um nome demasiado pomposo para o “coiso”, porque andariam ele aos gritos? Para ser franco, andavam sempre aos gritos por isso não era nada de especial o que se estava por ali a passar apesar de ser Sábado de manhã.
Naquela altura estava com um estalo que até parecia uma batata frita daquelas estaladiças, tipo as que vendem na praia segundo a receita da avózinha, uma isso fazia-me lembrar a bela bolinha de Berlim com aquele creme ranhoca com 15 dias de praia, até que não eram más de todo, não eram não apesar do aspecto, por vezes pareciam que tinham acabado de vir de um campo de bola qualquer desses por ai espalhados onde as bolas durante 90 minutos são tão maltratadas, as bolas e os espectadores, mas esses merecem sempre o que vão ver, adoro ver esses jogos, só para ouvir os mimos a que são brindados os jogadores adversários, os árbitros e o policias e muitas vezes os jogadores da casa, mas esses depois têm o que merecem no fim quando vão lanchar a bela “sande” de courato com os adeptos e o belo tinto, onde o melhor que se tratam é de filho de um comboio de melancias para cima, e este termo já é muito pouco utilizado.
Precisava de saber do Cão Guru, precisava de saber como estava a minha conta se não estaria a negativos, precisava de saber se ainda tinha alma, pelo menos não estava “perdido na pólis cinzenta da chuva fria” onde é que já tinha ouvido aquela frase tão pomposa, claro que minha não era ai isso é que não era, porque não tinha arte nem engenho para dizer coisas daquele género, as minhas eram mais “ o que ei-de fazer para ser o teu Amor?” geralmente a resposta era sempre a mesma suicida-te, o que demonstra que eu tinha uma personalidade muito forte porque nunca tentei, nem pensei no assunto se quer, tinha outra frase do gènero “ a menina sabia que este é o ano da queca louca?” geralmente a resposta era também demasiado evidente tipo - claro que sabia e onde encontro um bom parceiro, mas nada de muito especial, ou não fosse eu um ser muito especial, quer dizer, mais ou menos especial, quer dizer tipo aqueles bifes a moda da casa que são sempre muito especias, são sempre diferentes dos bifes convencionais, mas quando vêm para a mesa uma pessoa olha, olha e não vê diferença nenhuma, nenhuma mesmo a não ser quando chega a conta, ai sim notas uma grande diferença. Por mais que perguntes e barafustes e praguejes, ninguém te explica porque é que o bife à casa é especial, seria muito máis especial se fosse um bife “há” casa, porque ai já havia qualquer coisa uma casa por exemplo, mas ok, acho que sou especial a minha maneira, nada de especial, nada ou muito o vasco vai passar-se e eu não sou especial? Ai sou sou e vão ver mesmo como, e vão descobrir que eu não sou o centro do mundo, que sou o poeta da prosa, o musico da alarvidade mental o poderoso mentor de porra alguma o grande e enorme Rei do condomínio, agora já mês estava mesmo a passar e de que maneira, mas não vai ser por ai que o gato vai a filhoses, se é que há gato e filhoses se é que existe alguma coisa, a pedrada estava a dar cabo de mim de uma maneira violentíssima era mesmo poderosa, mas brilhante adorava aquela pedra dos meus novos charutos eram uma máquina de fazer rir e de fazer discursos estava ali um autentico político, político escreve-se com “M” grande ou “m” pequeno? Bem me parecia, político nem se devia escrever, mas podíamos inventar uma nova classe de políticos os políticos do Havano de erva, os ganzados do apocalipse, ou os pedrados do parlamento. Já tinha slogam e tudo : - Com políticas ganzado o parlamento a tarde não abre e de manhã está fechado.
- Adoro política, mas sem demagogia como isso é impossível é uma bela porcaria, fume ganzas que isso passa.
Mas a grande verdade a maior verdade é mesmo que o Vasco está lixado com “F” grande e eu aqui a curtir esta bela pedrada, essa é que é que é essa, coitado, nem quero pensar muito no assunto, cada um é como cada qual, eu como costumo dizer, não sou perfeito mas tenho partes de mim perfeitas.

Apeteceu-me



Acabou o capitulo (fogo) cruzado, e começa a Loucura, é a história da Psiquiatra do prédio.

terça-feira, maio 10, 2005

Mulher Invisível

Mulher invisível



(...)Era só mais um dia. Estava ali como todos os dias desde à 6 anos encostada a uma parede, numa qualquer esquina, que só por acaso era sempre a mesma.
Era uma mulher franzina, de olhar directo, rosto com marcas do tempo, com marcas do dia a dia, marcas de alguma frustração por exemplo de nunca ter visto mar.
Tinha um cabelo bonito, arranjado e enrolado, era negro natural, encaracolado por prazer, despenteado pelo vento, mas nunca esgardunhado, por isso sempre com aspecto delicioso. O seu olhar, directo mas discreto, atento, mas sem preconceitos, estudava quem passava e quem todos os dias a ignorava. Muitas vezes sorria com ela própria, dizendo que era a mulher invisível, invisível mas indivisível. O seu rosto apesar de agastado, da marcas sem perdão de um tempo que não para de uma vida mal curada, era um rosto simpático, enigmático, com simplicidade, era um rosto simples, talvez por isso se tornava bonito. Mas não era mais uma face, não era mais um semblante, porque era diferente, e a diferença não pode ser vetada à indiferença, por isso não podia ser invisível.
O seu corpo, era pequenino, franzino, delgado, delicado, esguio e nem por isso deixava de ser belo e apreciável, cada pedaço do seu corpo, estava incorporado no espaço a que lhe estava reservado, nada era enorme, mas tudo era proporcional, à beleza que um corpo deve ter.
Unhas das mãos pintadas uma cor purpura, quase a roçar a morte, aquela cor, que os corpos ganham quando perdem o calor e se soltam sabe-se lá para onde, costumam-lhe chamar a alma, mas não era mais que a cor, das suas unhas, e nada tinha a ver com a morte, simplesmente, porque a cor se tinha diluído por ai. Tinha vestido um camiseiro, cor de rosa, cintado, com umas golas enormes a fazer lembrar, modas de outros tempos, as golas compensavam o facto do camiseiro não ter mangas, ser cavado, estava abotoado até ao penúltimo botão, notava-se o seu regaço, queimado do sol, que realçava uma sardas ou uns sinais, que se não fosse assim nunca se notariam, conseguia-se ver o bordado do seu soutien preto, notava-se discretamente.
A sua saia, era uma pequena e discreta saia, não uma mini, mas podia ser uma média, feita de napa a imitar cabedal, um creme discreto a lembrar camurça, sobre ela um cinto largo, de uma cor estranha e cheio de miçangas de muitas cores uma fivela enorme, de cor de bronze, que apertava com dois (sei lá o nome) bicos.
Ali estava ela encostada, a espera, a espera que nada acontecesse, mas ao mesmo tempo a fazer o que mais gostava, observar as pessoas que por ali passavam, e nem se quer a olhavam.
Mas ela, ela olhava e via o que as pessoas continham, o que lhes ia na alma, ou por outra o que não lhes ia naquela alma..
Havia por exemplo uma senhora, que todos os dias passava por ali com dois sacos de plástico na mão, de um lado legumes, do outro o pão. Uma senhora de pernas arqueadas a rondar os cinquenta e muitos anos, pasava o dia a praguejar, olhava para mim, praguejava, olhava para o transito, praguejava, enfim olhava para a sua vida praguejava. Era casada, podia ver-se a sua aliança e mais outra que... queria dizer que estava com o mesmo homem a pelo menos 25 anos, na sua cara via-se que era uma luta e não um prazer, porque nunca a vi com ele, era obvio que ele ou era reformado ou desempregado, porque levava-lhe sempre o jornal, e ninguém quer ler o jornal depois de um dia de trabalho. E todo o santo dia lá ia ela sozinha, a praguejar com 25 anos de casamento e ninguém para lhe aliviar o esforço. Presumia que tivesse de ir naquele andamento, para ter o almoço a tempo e horas, para não levantar ondas.
A vida das pessoas, é assim, uma vida ocupada de desocupações, ou desocupada cheia de ocupações. Outra pessoa que gostava de observar era das poucas pessoas que me respeitava, estava ali a uns bons 30 metros de onde me encontrava, era o cauteleiro, conseguia falar com toda a gente, tinha conversa para toda a gente e toda a gente tinha conversa, para lhe dizer, aquele homem, tinha com ele guardado a vida de quase toda a gente que por ali passava, e a verdade, é que quase vivia de caridade deste e daquele. Quem sabia tanta coisa, devia de ser tratado de outra forma, porque seria que uma pessoa que tinha dentro dele a vida de tanta gente, era quase um indigente.
A vida continuava como todos os dias.. alguém ao fim de algum tempo parou para falar comigo:
- Desculpe quanto é? É preciso pagar o quarto, ou pode ser no carro?

Mais uma vez os olhos lacrimejaram e lá foi à vida.

Apeteceu-me


"O dia é a nossa imagem da vida, mas nem a chuva nos esmorece."
Charles de la Folie

sábado, maio 07, 2005

Divisão (muro)

Divisão (muro)

(...) Olhava fixamente para aquele muro, os olhos desfocavam, as lágrimas corriam lentamente pela sua face, as pequenas veias nos seus olhos começavam a ficar vermelhas de sangue,do grande fluxo de sangue, eram pequenos derrames. A sua mente vagueava entre aquele muro e a aragem daquele dia, olhava para os pés e sentia que nada podia fazer. Porquê os pés, porquê a vontade de pular com força em direcção ao muro? As mãos estavam cerradas, com muita força, notava-se nos músculos, totalmente contraídos, pareciam rochas, pedras, que a qualquer momento podiam explodir, sem qualquer razão aparente.
Estava frente a frente com o seu Adamastor, com a sua tormenta, com tudo o que mais receava, era a sua vida, estava ali e por vezes sentia-se sem controlo dela, mas a vida era isso mesmo um perfeito descontrolo, um perfeito respirar de dias, muitos dias, muitas horas, minutos, segundos, que eram respirados abundante e sofregamente.
Respirar, aquele acto continuo, que nos mantém ao nível de qualquer coisa, mas que coisa ?!
Aquele muro, que olhava fixamente, ele!
Durante aquele acto continuo de expirar e expelir, aquele acto de pura sobrevivência.. respirar é isso mesmo, é sobreviver! Para se sobreviver, é preciso resistir, porque podemos simplesmente, deixar de o fazer, e desacreditar toda a nossa existência.
O muro, que mais não é se não uma barreira, continuava ali. A sua visão periférica, mostrava que ele, muro, não tinha fim, não conseguia atingir o seu fim, podia ser meramente uma ilusão optica. Era uma barreira que por vezes parecia inultrapassável, mas nada lhe restava mais, a verdade era essa, nada lhe restava mais que aquele muro, vivia com ele 24 horas por dia, talvez por isso, naquele dia estava ali, quase prostrado, acabrunhado, diante do seu maior pesadelo, por mais que pensasse, chegava a conclusão que não havia volta a dar. Claro que não havia volta a dar, ele foi habituado a não dar voltas, mas sim a enfrentar essas voltas. O peito enchia-se de raiva, os sentidos despertavam ódios, o suor que se libertava era corrosivo, as pernas, entreabertas e flectidas forçavam e vincaram-se no chão, as pernas não, mas os pés, esses sim, forçados pelas pernas, com músculos definidos e saídos, o tronco seco em forma de “A” invertido, os abdominais salientes, pareciam tijolos mal enfiados, uma parede interminável, mas seca, um poço de força. De uma forma ou de outra ele sabia, que era inevitável, quanto mais os punhos cerrava, mais os músculos do pescoço saiam, a jugular quase pulava, movia-se para fora, como se uma mangueira tratasse. Estava frente a frente, depois daquela acalmia aparente, de anos e anos a fio sem que nada se passasse. O seu corpo naquele momento emanava uma energia forte, saiam raios de luz intensos, o seu cabelo estava em pé tal era a electricidade, os seus olhos mudaram de cor, ficaram da cor da electricidade, seja qual for a cor da electricidade. Os seus movimentos, ficaram rápidos, muito rápidos, de tal maneira que a imagem que se via parecia em camera lenta. Naquela altura, a diferença era enorme, respirava-se confiança, respirava-se, era evidente que o que se ia passar, ia ser violento, mas só havia um vencedor, e o derrotado cairia no esquecimento rapidamente.
Passaram-se 100 dias, e ali estava ele imóvel, diante do muro, podia-se ver, aliás já se viam as brechas, que o tempo estava a provocar, naquela barreira, alta, longa, quase intransponível, já se podiam ver pequenos movimentos da parede a sucumbir, o muro começava lentamente a despedaçar-se, a desintegrar-se, a transformar-se em areia, a imagem era de uma enorme ampulheta, que teimava em contar o tempo.
Alguém me disse que tudo começou numa pequena brecha. Aquele enorme muro, grande e quase intrasponivel, o tempo, fez com que se desvanecesse. E ele, ele ali ficou para sempre petrificado pela sua energia, naquele momento já era uma memória.

Apeteceu-me

"Os muros contornam-se, mas derruba-los dão mais satisfação" Charles de la Folie

quinta-feira, maio 05, 2005

(Fogo) Cruzado IX

(Fogo) Cruzado IX

(...) Mas porque havia eu de parar de rir, aliás dava-me muito mais gozo rir-me assim de uma bela pedrada do que beber uns copos, os copos eram porreiros mas além de ficarem mais caros, dão uma ressaca filha da mãe, acho que a minha sorte de não esta tão mal foi não ter bebido muito e fumado quanto baste, porque se não hoje isto estava bonito estava, mas enfim.
Já passou, agora já estava a carburar um belo charuto “made by Pilitas” e acho que o melhor é fazer outro, um belo charuto de erva, porque aqui neste belo prédio está prestes a rebentar uma bomba, uma daquelas, que tenho de ver isto como diz o povo a cor de rosa, mal sabem eles que isto de cor de rosa pouco tem, mais parece um arco Íris.
Têm piada, aliás tudo tem piada, agora até se a Susana se me deixa-se eu me iria rir, estou mesmo estupidamente bem disposto. Imaginem ter uma gajo com os copos a falar contigo, durante horas, cada vez que quer dar ênfase a qualquer coisa toca-te, bate-te, no braço , no ombro, um “gajo” até se passa, fico possesso, e reforça a ideia que não te apetece ouvir e bate-te mais ao fim de uns minutos tens os ombros e os braço negros, tudo isto para reforçar a ideia que a erva é mais cool, mais paz e amor e raios que vos lixem, deixem-me em paz, não tenham conversas muito intelectuais comigo, erva é mais mesmo deixem-me em paz que eu quero mesmo é rir-me que nem um louco andar bem disposto, agora conversas pseudo intelectuais “made by construção civil” tipo ouves na telenovela e fazes daquilo lei, fazes quase a constituição da republica. Bom já parecia que estava a ficar senil esta coisa dá-me todos os dias ás 9 e 30 da matina, fico um bocado obtuso, ok bronco, não ignorante, porque e se há uma coisa que eu prezo é na educação que os meus pais me deram, incutiram-me todos os bons valores, desde os morais, aos deixa lá ver aos morais, mais aos valores morais e ainda aos valores morais, mas isso era mais a minha mãe , não é que fosse uma “rata” de sacristia, mas o meu pais os valores, deixa cá ver, umh, pois o meu pai era um bocado tarado, pois um bocado tarado era favor, era um bocadinho muito, talvez um bocadão bastante, era um grande tarado, o meu pai passava a vida a tentar enganar a minha mãe, mas tenho a ligeira sensação que o cornudo era ela, mas isso agora pouco importa.
Lembro-me das poucas lições de vida que ele me deu quando descobriu a minha plantação de erva, foi que a erva não servia só para fumar, que fazia muito mal, que a erva era muito boa medicinalmente mas era bebida.- fiquei um bocado estupefacto, agora beber erva? Mas realmente depois explicou-me que era bebido como chá, fazer um belo chá de erva, mas dai a ser bom medicamento ia uma grande distancia mas enfim, e o que é verdade é que foi uma bela lição de vida. Apanhamos uma pedrada nesse dia os dois que ficamos uns belos compinchas, aquilo rendia pouco como chá mas não era nada mau, depois vim a saber que no Ceilão era um prática corrente, beber chá de erva, eu sempre tive alguma afinidades com o Vietname, não sabia bem porquê mas agora já sei, têm a ver com o belo chá, mas enfim não vamos falar mais do assunto porque agora, estava mais virado para Cuba para as belas técnicas de como se fazem charutos, e agora lã que ia outro, só de pensar naquele envelope, naquela carta, naquela história que o Vasco ia levar, se é que ainda não levou, não levou porque se não já sabia ele já aqui estaria, mas também com a ressaca que ele deve estar, anestesia tudo, claro que anestesia, mas não sei se não curaria logo, aquela medonha ressaca que ele deve ter, acho que ele nem sabe como chegou a casa.
Mas se estava com vontade de lhe contar, agora não vou lhe vou dizer nada acho que ele vai estar ocupado com outras coisas, vai ser a vingança do chinês, adoro as vinganças do chinês, o chinês tinha uma piada que nem vos conto, nem sei como não há um livro a explicar a teoria do chinês, eu um dia ainda vou escrever um livro sobre o chinês, os chineses, aquelas vinganças, as torturas aquela maneira de serem, que não sabem dizer não, dizem que sim a tudo, e estão sempre a entalarem-nos.
Pois é, tipo, gostas de mim? E eles dizem que sim, mas estão a dizer a policia que és o malandro que roubaste a avó, violaste a filha, beijaste a mulher e fizeste amor com ele.


Apeteceu-me

"A mentira é cega, de tal maneira que a verdade não se Vê "
Charles de la Folie

terça-feira, maio 03, 2005

Fábula sem sentido

Fábula sem sentido


(...) Nada de especial, não era mesmo nada de especial apenas alguém com muita vontade de sorrir, era uma criança, sim uma criança e ao seu lado estava outra e mais outra e outra e muitas mais, eram mesmo muitas, mas sorriam, todas elas sorriam, não era vontade, sorriam mesmo,ao mesmo tempo estava um silêncio ensurdecedor.
Não conseguia compreender porquê, não entendia aquele silêncio, via-se, notava-se perfeitamente as crianças a brincarem, a brilharem, a falarem, a divertirem-se, conseguia ver, uma roda com uns 10 meninos intercalados, com a girafa Badana, o macaco sapato, o tigre Balulas, e as manas tolinhas, eram todas lindinhas.
Mas estava ali parado a olhar, não entendia, não entendia nada, muito menos o que se passava ali era uma fábula a maneira antiga, (não de La Fontáine), mas não tinha som, não tinha sentimento, aquilo que via, parecia qualquer coisa que não trespassava para o mundo onde estava.
Parecia um animal numa jaula, andava de um lado para o outro a procura de soluções, a tentar perceber o porquê de não sentir nada, de não ver, de não ouvir as crianças, os seu gritos as suas falas, as suas fantasias, não as ouvia, nem as entendia.
Ali mais ao lado, balançavam uma enorme corda duas meninas, de costas voltadas uma para a outra, saltava a avestruz Saltitona, e a hiena Fedorenta, estranho... também não sentia o seu cheiro, era mesmo muito estranho, lá no meio da praça a cadela Assunção e o cão Ão ão, faziam um concurso de buracos, enquanto tiravam a terra que nem loucos, o canguru Frufru acalcava-a com saltos, enormes, grandes saltos.
Só lhe apetecia chorar, não entendia o porquê de não entender as crianças, de não as ouvir, de não saber o que ali se passava e porque apareceram de repente aqueles animais todos, não era normal, não parecia sequer um sonho, não era, por certo que não era, não podia ser, estava a ficar quase irado, irritado, quase a ficar com vontade de gritar, de se fazer ouvir, mas cada vez que tentava dizer alguma coisa aos meninos, as palavras não saiam, a sua voz não emitia qualquer ruído, qualquer som, parecia que estava num enorme vácuo, numa outra dimensão.
Estranho que alguns animais pareciam passar por ele e dizerem-lhe adeus, havia vários orangotangos, um que se chamava Barnabé e o outro rapé, empoleirados em cima de uma nuvem, atiravam fatias da nuvem aos meninos e depois, escondiam-se, a nuvem era cortada como as melancias, quem adorava era o porco Silvio e o bode Silvério, comiam o que sobrava e agradeciam a quem lhes dava.
Era alegria a rodos, mas ali o nosso amigo continuava a não perceber, não queria acreditar, continuava sem acreditar no que se estava a passar, o que se passava com ele, nunca nada daquilo lhe tinha acontecido, nada mesmo, nem parecido, estava tentado a gritar novamente, mas já estava cansado muito cansado, de tanto tentar perceber aquele mundo, que tinha despertado ali sem mais nem menos, sentia-se como se estivesse pendurado num estendal de roupa a secar, ou numa vitrine de exposição de bolos ou qualquer coisa assim meia estrambólica, as forças começavam a faltar, estava quase a desfalecer sentia um cansaço enorme a percorrer-lhe o corpo, a alma os sentidos, começava a ver tudo a dobrar a quadruplicar, fazia lembrar as maquinas de filmar antigas com 4 zooms, antes de cair olhou para o lado e viu numas bolhas de sabão enormes, outras pessoas como ele, com as mão cravadas nas paredes das enormes bolhas que emitiam ou transmitiam, ou largavam ou... a espaços visam-se pequenos arco Íris.
Olhos esbugalhados e uma visível preocupação sem percebere o que se estava a passar.
Uma ligeira brisa, um chocalhar e um remexer das enormes bolhas, mais uma folha desfolhada, daquela história sobre a infância perdida, dos meninos que se recusam a crescer e dos grandes que nunca foram meninos, o sapo palhaço lá estava a rir-se, agarrado a lula ramelosa, ao grilo rameiro e á cobra esguia, que nem uma enguia.
Nesse dia algo de importante aconteceu lá para os lados do arco Íris, um enorme sorriso depois de um bocejo do Sol.


Apeteceu-me


"Os passos bem medidos nem sempre têm conta certa" Charles de la Folie

domingo, maio 01, 2005

Garoto do Rio

Passear na Lua

(...) Ria-se a “bandeiras” despregadas, era um prazer vê-lo sorrir, era um prazer saborear aquela ilusão a que nos transportava. Era um “miúdo” fantástico dizem! Um daqueles garotos, que gostávamos ter sempre por perto para podermos observar e aprender. Quem diz que os mais velhos, os mais sabedores, não aprendem com os mais novos! Quem diz isso? Pois quem diz não sabe nada, não conhece nada da vida.
Aquele garoto, saia todos os dias de casa apaixonado pela vida pela vontade de viver, pelo saber crescer. Crescia com passos bem medidos, que só a sua idade sabe fazê-lo. Nem muito depressa nem muito devagar, crescia SIMPLESMENTE.
Grande parte dos dias sentava-se ali perto do cais, numa pequena saliência, com os pés quase a tocarem o rio, com o seu boné azul, gasto de tanto o usar e de tanto sol aparar, a pala desfiava, sempre voltada para trás como a sacudir os dias que passam. Ali sentado pensava, reflectia, o seu dia a dia. Phones colocados, ouvia grande parte das vezes, musicas que os mais novos não ouvem e os mais velhos têm medo de escutar, coisas como Ben Harper, mas ouvia, escutava, versões “Malditas” de “Excuse me” ou Tricky em “ Evolution, revolution, love”.
Eram essas musicas que o transportavam ao seu mundo, que traduziam aquele sorriso de fazer inveja. Era fantástico vê-lo ali sossegado, sozinho, mas compenetrado nas suas coisas mundanas, não no sentido de mulher da vida, mas na facilidade e liberdade de pensamento das suas coisas, era um regalo vê-lo ali a dar as pernas a olhar para o horizonte, correr aquele rio a uma velocidade que só a sua vista e o seu pensamento conseguia, uma ternura.
Foi num dia daqueles... ou num daqueles dias, numa tarde de desfolhada, onde corria uma aragem de arrepiar a espinha que, desapareceu do olhar de todos os que o seguiam a distancia, desapareceu, foi, foi-se literalmente daquele sitio. Sentiu o momento de viragem, em que o rio deixou de correr para o mar, as nuvens pararam no céu, o vento prostrou-se num qualquer vale, o canto dos pássaros ficou sem melodia, as mentes ficaram perplexas, os riscos tornaram-se invisíveis, o pesado ficou leve e a alma indivisível.
Naquele momento, a vida parou, os olhares perderam-se pelo espaço, pela escuridão de uma qualquer solidão se é que isso se pode dizer, quem o olhava, quem sorria por o saber por perto percebeu o grande vazio com que ficou.
Todas as noites naquele local podia-se ver uma enorme bolha transparente brilhante, estranhíssima! Parecia o seu recorte a brilhar. Nem toda a gente o via, só mesmos aqueles que durante anos beberam da sua pureza, possuíram a sua actitude, a sua capacidade de estar na vida de olhar, sorrir e dizer coisas bonitas. Foi ai que a vida continuou, o céu não caiu, as nuvens não se esvaziaram, o rio continuou a correr em direcção ao mar, as palavras voltaram a fazer sentido, as melodias, pareciam outra vez existirem.
(...) noutro espaço de tempo, sentado num enorme penhasco, com os pés soltos por cima das nuvens, mãos vincadas na terra, ao lado dos quadris, pernas semi abertas e a balançar, tronco ligeiramente inclinado para a frente, olhos vincados, muitos quilómetros a frente, lábios meios gretados do vento e do sol, do frio e dos dias ali.
Pensava em tudo e em nada, mas pensava, na vida que tinha, que queria, e na vida das pessoas, das muitas pessoas que acreditavam e acreditaram em si, que o viam, que conheciam o seu sorriso, e que do seu sorriso faziam modo de vida.
Era o sorriso que os que não conseguiam chegar ao seu brilho, era o sorriso que “eles” imberbes criaturas invejavam.
Um dia senti que aquele menino estava sentado na minha janela, sentado com os pés a balançar para o lado de fora, e acreditou...
Adorava saber que ele se passeava pela Lua.

Apeteceu-me
“Sorrir não está ao alcance de todos, muito menos dos imoraisCharles de la Folie