(...) Parecia em camera lenta a sua queda, de braços abertos, os cabelos soltos, e desfiados, os olhos fechados, lentamente parecia uma arvore a tombar. Caiu redondo no sofá, aquela ultima passa tinha sido mortal.
(...) Naquele dia, naquele inóspito dia, lembra-se de estar á conversa com um aborigene, uma longa e leal conversa. O sitio parecia tenebroso, escuro como breu, mas cheio de significados que demoravam a aparecer e a saltarem cá para fora.
O seu interlecutor, era uma pessoa escura, muito escura mas de cabelo branco, um cabelo liso, desgrunhado, mas simétricamente desalinhado, cada desarranjo do seu cabelo parecia estar no sitio certo.

Os olhos eram uns olhos escuros, penetrantes, com muita história, e também histórias, muitas, eram uns olhos sábios, com muito, bastante mesmo para dizer. Um nariz grande, enorme, com umas narinas que abriam de uma forma espantosa cada vez que enalavam e expeliam ar, dai aquela caixa toráxica fora do normal.
Uns lábios finos, cada vez que debitavam sons, palavras, frases, pareciam musicas, se uma janela imaginária se abrisse de par em par, e só focasse aqueles lábios poderiam vê-los dançar ao som da sua música, da musica, da sua própria musica.
As suas mãos, as suas enormes mãos, eram rasgadas por grandes linhas, daquelas que se querem da vida, do amor e de muitas outras que só as ciganas conhecem os segredos. Eram umas mão cheias de Estórias, cheias de trabalho, cheias de grandes silêncios e segredos.
Era, era um enorme homem, um grande judicioso, um grande fazedor de carácteres.
A conversa com este homem, este sábio homem, a conversa, dizia, corria como as cerejas. Conseguia dizer, sem nunca o referir, que a vida, a "sua" vida levava uma direcção errada, muito errada, que as consequências poderiam ser graves, muito graves e irreversiveis.
Mas era a forma como o fazia, a sua calma, até a sua transpiração parecia falar, parecia desenhar no seu rosto respostas ás dúvidas, ás suas imensas dúvidas. Olhava para as mão aquelas mãos, que já foram desenhadas por ai, que hà muitos anos, mãos iguais foram, escritas, escrevinhadas e redesenhadas em grutas, há mesmo muitos anos. Aquelas mãos, que agora manuseavam com habilidade, uma pasta, era uma mistura, que só ele sabia e conhecia, era um segredo bem guardado que tinha sido transmitido pelos seus antepassados, de geração em geração.
Focava a massa, a mistura, mas gentilmente e suptilmente, fez-o olhar para os seus olhos, para aqueles olhos que pareciam uma televisão, estava a ver os erros que cometera, aqueles erros que poderiam modificar a sua vida para sempre, parecia ver, a sua morte ou algo parecido, estava algo deturpado. Os olhos iam dizendo coisas, tais como as mortes que iria provocar, os muitos “males” que ia fazer.
Aquilo ia mesmo acontecer ele sentia-o. Aquele velho sábio tentava dizer-lhe alertar-lhe, parecia encolher-se, cada vez que se soltavam coisas más na vida que estava a passar de relance naquela visão ou naqueles olhos, talvez não fosse muito nitido para ele, mas para o aborigene, era claro. A posição e pelo esgar de dor, pareciam facadas que se estavam a cravar naquele corpo cheio de história e de histórias era evidente que a vida seria um inferno e que tornaria um inferno a todos que tocasse, por isso... aquele alerta, ele o velho não era uma visão, mas sim um alerta.
De uma bolsa feita de pele, uma pele vermelha, bem curtida, curtida pelas suas mãos tirou, um cachimbo também ele vermelho cor do deserto, por onde toda a vida deambulou...
Agarrou no pedaço de qualquer coisa que manusiava, aquela pasta que só ele conhecia, enfiou com muito jeito, dentro do cachimbo. Acendeu-o, puxou com uma força infernal, esperou alguns segundos e expeliu um fumo cor de nada cá para fora, passou o cachimbo, ao nosso personagem, que naquela altura, no seu primeiro folego, caiu redondo no sofá, na sua primeira e ultima passa.(acordou 2 dias depois)
Apeteceu-me
“ Os alertas existem, mesmo que não se dê conta” Charles de la Folie