quarta-feira, julho 27, 2005

ESPIRAL


(…) Procurava a uma velocidade incontrolável o inexplicável.
Os dias passavam, a floresta crescia, a vida... Essa ia passando… Grande parte das vezes ao lado.


(…) Nunca me disseram nem quiseram dizer que afinal tudo não passou de uma ilusão óptica, mas esteve lá, mas realmente já não está. Não era o mágico, os trapezistas fugiram e o malabarista estava calmo e imperturbável, era uma ilusão óptica que se encaixava numa mente que mente…

(…) Chorava… naqueles dias de chuva fria, nem o calor do coração aquecia as pobres almas que não entendem o que procuram… mas viajam, procuram, e a frustração de não encontrar é grande e o cadafalso ali tão perto.

(…) Foi naquele dia que olhou para o vazio e nada encontrou, era mesmo um vazio a alma não estava lá, naquele sítio… estava um enorme buraco no seu ego (centrismo).

(…) A mente estava em ebulição, mas o seu corpo fugia, não sabia para onde ia, estava farto de acompanhar aquela espiral de coisa alguma. Desconfia, de si, da sombra, de tudo desconfia que não há nada para desconfiar mas sim para desfiar.


(…) Cai a noite, cai a vida, cai o sono e o sonho, está na hora de acordar, os dias passam e não há forma de os agarrar e envia-los de volta, é como o tempo que não existe mas não para de passar e de nos levar… todos os dias um pedaço… essa carne que esvazia e dá lugar ás rugas, está mole a vida… está mole.

(…) Tranquilo, tranquila.. A verdade vagueia por ai foge as desconfianças.. Mantém-se imperturbável… vive e deixa viver. Passa e deixa passar… a brisa mantém-se a bater-lhe na face até o sorriso se abrir. Tudo não passa de uma ilusão.

Apeteceu-me

"Porquê procurar o que não existe se a felicidade é real?!"
Charles de la Folie

RAIO de LUZ



(...)Nada de muito especial – Um dia normal, cheio de luz e energia que chegava, para... para isso mesmo. Nesse dia, nesse mesmo dia descobriram que a Terra girava a volta do Sol, mas nesse dia não era isso que importava. Aliás que importa que a Terra gire a volta do sol, isso importa ?!

(...) A Luz chegava numa espiral, parecia um sonho, talvez um milagre naquele sitio a Luz era mais brilhante, mais... mais muitas coisas, parecia ter estrelinhas, muitas estrelinhas a brilhar, parecia magia, um raio de Luz a sair de uma varinha mágica, mas ali, naquele espaço onde as flores estavam mais brilhantes, estupidamente bonitas e delicadamente compostas, não havia mais nada, a não ser aquelas bonitas flores e erva, erva selvagem que bailava ao sabor do vento que a espiral de Luz fazia...

(...) Espreguiçava-se, estava deitado naquele campo verdejante acabado de sair de um livro, de um belo livro de histórias de encantar, belas historias imaginárias que brotam de um sem numero de páginas que se escancaram de prazer, que se lêem como quem come cerejas.
Levantou-se, olhou para o céu, levou as mãos a cara e esfregou os olhos despertou daquela sesta que tão bem lhe sabe, correu para o ribeiro para lavar a cara e.. no reflexo, viu, pois viu...

Raio de Luz

(...) Atirou-se lá de cima, ninguém estava a espera, nem ele. O dia tinha sido de festa, mas a reacção foi espontânea, talvez premeditado, o sinal parecia obvio.
Naquele trajecto, curto trajecto ouviu-se um grito que arrepiou toda as redondezas. O grito veio de dentro, veio da alma, chegava e sobrava para afastar o medo.. foi o seu primeiro salto e de certo o ultimo. O burburinho que se ouvia o diz que disse, era que ao fim de tantos anos ele conseguiu.

(...) O dia era especial, muito mesmo, podia-se dizer que... era o principio de muitos, muitos dias a dois, ou a três, ou a quatro, não importava, a quantos seriam.. mas era o principio do fim...ou o fim do principio... mas que importava, conseguiu dizer o que lhe estava na alma há muitos anos.

Apeteceu-me

"Nem sempre a Luz nos encandeia, ás vezes ofusca-nos"Charles de la Folie

domingo, julho 24, 2005

SEI LÁ

Sei Lá




A vida, a vida.. ora,qual vida qual coisa, qual porra...
Porque será que tenho de pensar nesta coisas, além do mais nem bizarras são.
Sei lá porque tenho de andar sempre a pensar, pois, porque tenho de pensar, não quero pensar, não me apetece cansa-me.
até porque as coisas que mais gosto estão sempre presentes, ainda bem, porque quero muito, mesmo muito que estejam presentes.
Hoje estou gasoso. Pensando bem, este texto não tem razão de ser...porque tenho muito para sorrir, afinal..tenho muito para sorrir.(ponto final, paragrafo)
Não vos quero contar,(nem vou) mas estou feliz, feliz por ter "amigos". Fazem parte de nós, de mim ..e fazem-nos bem. Não falo só dos amigos, mas essencialmente deles.
Estou contente por um deles, amigo claro, ter insistido para que eu escrevesse.. e com isso, ter tido uma experiência incrivel
Eu e o meu filhote...(do caraças senores ouvintes, do caraças)
pode ser que um dia vos conte mas...vão sonhando com isso...
aliás estou a procura de um final para esta história. mas não procuro um final...procuro aquilo que tenho a felicidade...hoje afinal de contas sinto-me uma pessoa feliz... sem desertos alguns.

Apeteceu-me

"Sou o que sou e por isso serei sempre."
Charles de la Folie

quinta-feira, julho 21, 2005

APARÊNCIAS


Aparências


Porque será que os Portugueses gostam de viver de aparências? Porque será que queremos ser sempre mais do que os outros?
Porque é que até nas catástrofes temos que procurar incessantemente um português, para dizermos que estávamos lá? - Mesmo que esse português seja Colombiano! - (Será que ele vai processar Portugal por danos morais irreparáveis e por lhe chamaram Português?).
Ando cheio de dúvidas existenciais. Porém a grande verdade é que vivemos de aparências. Queremos mostrar que somos os maiores, mas depois não temos onde nos agarrar, mostramos o nosso provincianismo em pequenas coisas: compramos “Donna Karan”, nos “ciganos” com padrões da Tommy. Já vamos voltar à roupa. A verdade é que queremos ser sempre mais que os outros!
Como disse, há uns tempos o arrastão não tinha sido nenhum arrastão. Para variar ninguém me levou a sério e agora chegaram à mesma conclusão do que eu: o arrastão de 500 pessoas afinal só tinha sido de 20 e de arrastão passou a escaramuça!
E sabem o quanto vai custar a Portugal esta mania das grandezas?! - Eu não imagino. Todavia a imagem que passou lá para fora, é que isto é um país de marginais, e que estas coisas acontecem diariamente. E agora? Quem paga estes danos? - Lembro-vos que somos todos nós que temos a mania que somos mais do que somos. – Não basta parecer. Temos de ser.
A minha mãe sempre me disse: -“ não podes ter mais do que ganhas” – e lá me fui acostumando ao longo dos anos. Os Portugueses deveriam seguir este exemplo. Eu tenho dificuldade em entender porque somos o país que tem mais telemóveis per capita. Não entendo: se somos o país da União Europeia, onde menos se ganha, onde menos se produz, onde a educação é pior, onde a agricultura está abaixo de “cão”, porque temos de ter tudo, o que não podemos!? Mais telemóveis, mais carros topo de gama, mais tudo? Até temos um tal Alberto João Jardim que consegue dizer mais disparates por segundo do que outro qualquer político Europeu. – Eu disse Europeu? – Perdão: queria dizer, mundial.
Esse tal “senhor” (aqui é pejorativo) tem uma lata que mais parece um ferro velho. Eu lembro-lhe se ele não sabe, a quantidade de madeirenses (portugueses) que existem na Africa do Sul, Estados Unidos e na Venezuela. São muito mais do que os portugueses (madeirenses) vivem na ilha. Mas hoje entendo tudo: eles não foram à procura de melhores empregos, nem de melhores condições de vida. Eles simplesmente quiseram estar longe de tal ogre. - Imagino o inferno que deve ser viver perto daquele “senhor” (pejorativo). Mas nós portugueses, os mais provincianos dos provincianos -, só mesmo os sicilianos são mais do que nós -, mas esses sabem governar-se e ai de quem se mete com eles, apesar da Máfia ter os dias contados.
Eles é que não sabem. (nem eu, mas fica bem dizer isto)
... Voltando à roupa, não entendo como é que as lojas podem vender as coisas tão caras, muito mais caras que nos países onde se ganha muito mais do que por cá. O que eu digo é que querem ganhar tudo de uma vez. Basta ver os saldos: andei a namorar umas botas que custavam 200 € - namorar, porque nunca gastaria esse dinheiro seja para o que for -, (roupa entenda-se) e depois fui buscá-las em saldo por 45 €. Ora se a loja não estava a perder dinheiro –, porque não perdem. Os portugueses nunca perdem nada –, 155€ de lucro?!
É caso para dizer... não digo...é melhor para todos.

Apeteceu-me



"Não é o espelho que me conduz, prefiro a tua mão!" Charles de la Folie

terça-feira, julho 19, 2005

LOUCURA VIII

Loucura VIII




(...) Estava mesmo a precisar de ouvir, aqui a minha voz preferida a dizer, “veste aquela mini-saia, ou os calções que compraste o ano passado em Milão”, são uma autêntica pedra, além de serem lindos, sobressaem o que de melhor tenho, um par de pernas de fazer inveja a muitas meninas novas, mas mesmo assim há muitas meninas famosas do mundo da moda que .... Não é para me gabar, mas tenho umas pernas lindíssimas, bem feitas, não são um milímetro que sejam desviadas, ou tortas como queiram, torneadissimas e terminam num rabo em forma de coração, um coração invertido mas perfeito, lindo de morrer... pois se não for eu, quem será!? Mas a verdade é que sempre me disseram que eu podia ter sido modelo se quisesse, eu é que sempre achei essa vida um bocado enfadonha e um pouco fútil, sempre fui uma mulher de causas, e não era o mundo da moda que me ia dar cabo dos meus neurónios. Aliás,o segredo profissional é que não me deixa revelar uma serie de coisas. Pois mas eu não estou a por em causa o segredo de coisa nenhuma, estou sozinha a falar comigo, isto é que é uma coisa, ás vezes passo-me. Então dizia eu, cá para os meus botões, qe já atendi muitas meninas modelos vindas das mais distintas casas da moda, e de moda, porque as modas são mesmo modas, que muitas vezes não passam disso mesmo. Mas essas meninas, grande parte delas têm um vazio dentro delas que até mete impressão, um vazio de solidão e um vazio de ar, muitas têm beleza e nada mais, quando as meteram no mundo esqueceram-se da parte interior. Desproveram-nas, umas de cérebro, outras de coração, outras ainda das duas coisas, quase todas frias, tipo osgas, transparentes uma coisa horrorosa. Todas elas vivem de uma solidão imensa, nunca sabem o que fazer, a não ser ir a festas, vender os seus sorrisos, nunca o corpo... é verdade, elas prostituem-se de outras formas. Quase tudo começa quando deixaram fazer a lobotomia, mas não é isso o essencial, o essencial mesmo é que a maior parte delas estão agarradas ao pó, a coca, é caso para se dizer maldita cocaína , mas essa é a verdade, mas nem mesmo assim ficam mais estimuladas, nem mais aceleradas, são verdadeiras coisas. Eu costumava brincar, que elas não existiam eram meras invenções, autênticos hologramas de manequins, mas afinal elas grande parte das vezes ali estavam em frente a mim, em raros momentos em que além de sorrirem até que falavam, balbuciavam umas palavrecas.
Haviam umas quantas, que tinham tantos problemas em relacionamento, que para os anúncios para que eram chamadas, não tinham falas, estavam proibidas de falar,limitavam-se apenas a sorrir.
Mas falava eu das minhas pernas, adorava as minhas pernas, adorava passar creme por elas, massaja-las com as duas mão, tipo sentar-me no sofá, estender a perna para cima, e depois quase ao nível da minha cabeça, passar com as duas mão desde os tornozelos até bem acima do joelho, e depois massajar bem, além de sensual, dá uma sensação óptima. Cada vez que olho para mim ao espelho, percebo por fico louca por mim, porque realmente, sou uma apaixonada pelo meu corpo, só tenho pena de não me poder beijar nos meus próprios lábios, que são um amontoado de carne, deliciosos, adoro mordiscá-los, e o meus seios!? Rijos, subidos, não muito grandes, nem muito pequenos, como costumava dizer, eram mesmo a medida das minhas mãos. Era por isso que aquela sala parecia, (ainda não tive tempo de arruma-la) uma sala de sexo artificial, mas adorava, adorava mesmo sentir-me amada por mim própria. Tinha sérias duvidas se não era ninfomaníaca, mas a verdade, é que se ser ninfomaníaca e ter horrores de prazer, ai sou, sou, e que ninguém se rale com isso, porque adoro, adoro ter orgasmos, acho que é diabólico, é um momento, indescritível, aquele momento, que parece que nos estamos a afundar, que nos falta o ar, que parece que vamos sufocar, afogar a qualquer momento e depois solta-se qualquer coisa em nós e assumimos, bebemos o ar e parece que renascemos, parece que levamos uma dose de adrenalina em pleno coração onde se desprende um grito. Parece aqueles carros dos miúdos que se puxam para trás e quando se soltam, fogem a uma velocidade incontrolável, assim são os meus orgasmos. E o bom é que consigo muitos e muitos parecem ser de uma violência mas apetece-me sempre ter mais muitos mais, se pudesse mesmo estava o dia todo a ter orgasmos.


Apeteceu-me


"Nem tudo é terno, mas nada é Eterno"
Charles de la Folie

quarta-feira, julho 13, 2005

CLANDESTINO


Clandestino
(...) Não estou habituada a estas coisas! Há coisas que me fazem muita confusão entender!

(...) A separar-nos estava uma estrada estreita, de um lado ao outro do passeio era muito pouco, poucos metros, sentia-se o cheiro, o cheiro daquele perfume barato pouco discreto, mas... era optimo, vê-lo, vê-lo daquela maneira fantastica, era um homem robusto, caminhava firme, cada passo uma história, um pensamento, uma memória.
Mas quem era aquele homem misterioso, que nunca ninguém lhe viu os olhos, sempre com os olhos tapados por uns oculos muito escuros.
Grande parte das vezes mantinha-se encostado a parede com um pé sobre ela, parede claro, onde esfumaçava um cigarro, no canto da boca, quase até ao filtro sem nunca o tirar da boca, era impressionante o equilibrio que fazia com a cinza que se mantinha na forma do cigarro até ao fim, ate ser sacudido e atirado para a sargeta. Debaixo do baço o jornal do dia, um jornal meticulosamente enrolado, era assim todos os dias.

(...) Todos os dias ficava ali parada a olhar para ele, naquela esquina fria, entre a rua das modas e a rua dos sapatos, era o sitio onde podia vê-lo sem ser vista, teimava em estar ali, reparar em todos os movimentos, e meticulosamente engendrar danças e contra-danças na minha cabeça, com aqueles pequenos movimentos que via, olhava-o como se fosse um alvo... um grande e enorme alvo, que me tinha declarado guerra em tempo de paz.

(...) Aquela calçada, inacabada onde caminhavam milhares de pessoas por dia, entre o nascer e o por do sol, onde se movimentavam, os produtos, que eram transacionados naquela zona comercial da cidade.
Uma calçada com histórias imensas histórias para serem contadas e sonhadas... era naquela calçada, que se encontravam muito da indentidade das pessoas, bastava olhar para as descobrir, imaginem um papel de pastilha meticulosamente embrulhado... diz muito da personalidade de quem o fez, um bilhete de metro rasgado aos pedacinhos, demonstra nervosimo e insegurança, entre muitas e muitas revelações.

(...) Era um homem de caracter imprevisivel, apesar daquele chapéu de aba larga, não muito mas de um destinto feltro preto, nunca era possivel desvendar ou descobrir, melhor prever, quando o tirava para fazer malabirismos com ele, o lenço que ostentava no seu pescoço era de uma seda finissima, oriundo das Asias mais longinquas, se é que a Asia é longinqua seja lá ela qual for, mas era um homem surpreendentemente belo para a idade.


(...) Interrogava-me se ele algum dia tinha lido algum daqueles jornais, que todos os dias, mantinha debaixo do seu braço, ou se seria sempre o mesmo, é que nunca o vi a olhar sequer para ele. Mas parecia um homem bem informado e formado, era de certeza, havia pelo menos essa certeza em mim apesar do muito tempo... que ali passava e passara.

(...) Naquela calçada, foi ali que há muitos anos pai e filha, passeavam, antes de um ter abraçado uma causa impossivel de largar e outro ter fugido por outras causas que não o amor.

Apeteceu-me
" Onde ele anda ninguèm sabe mas quando aparece, corroi"

Descobri-te, estavas lindo neste dia, adorei conhecer-te a ti e as tuas amigas, até um dia deste BINO
Charles de la Folie

terça-feira, julho 12, 2005

ENCRUZILHADA



Encruzilhada



(...) Custava-lhe a acreditar, não sabia bem porquê mas teria sempre as suas duvidas, não podia ser... Ela não podia ter partido sem dizer adeus.

(...) acordou naquele dia, eram umas 5 da manhã, mais coisa menos coisa. O Sol ainda não tinha subido, mantinha-se embrulhado por detrás daquela colina.
Tinha a boca seca, com saliva seca no canto dos lábios. Voltou-se para o lado, como se lembrava de fazer todos os dias, esticou o braço, mas do outro lado não estava ninguém, achou estranho, era sempre o primeiro a levantar-se, devia de estar ali alguém mas não, estranhou, mas voltou-se para o outro lado e devagar escorregou as pernas para fora da cama até sentir os pés a tocar no chão frio, depois antes de abrir os olhos, arrastou o tronco até sentir forças para dar o impulso final para se sentar, para se sentir sentado.

(...) Estava um frio na rua como quem tem nervoso miudinho, parecia um arrepio, o Sol estava quase a desprender-se daquele sono, na rua, a rua, ali, naquele espaço as pessoas comevam a movimentar-se como tivessem dormido por ali e de subito ganhavam corda e lá iam fazer o que a sua mente lhes ditava. Era a azafama do dia a dia, aquele buliço que começava, a padaria abria as portas de par em par, o leiteiro fazia a entrega do seu leite que de matinal só tinha a entrega, o cheiro da maresia dava lugar ao cheiro da gasolina e do gasóleo queimado. Enfim mais um dia.

(...) Sentado na sua cama sem saber o que sentir e pensar, esfregava os olhos violentamente para afastar a remela, que se tinha acomulado naquela noite bem dormida, mas mal vivida e pior conselheira. Estava meio destrambulhado, como qualquer pessoa normal quando acaba de acordar, mas estava desnorteado de todo, não entendia, o porquê da sua companheira não estar deitada, mal abriu os olhos conseguiu ver em cima do toucador, uma folha de papel, com uma lampisira em cima. Estranho, estranhou, o que se teria passado, estava receoso, muito receoso com o que se estava a passar.
O seu estomago começava a tomar conta dele, as voltas, a ansia, tudo o que se pode pensar, nem a ulcera o deixou naquele momento que podia ser de abandono.


(...) A verdade é que aquele era mais um dia, mas um dos dias mais concorridos da cidade, era dia de festa, estavam a preparar tudo para a engalanar, para receber as visitas, os muitos milhares de visitantes que eram esperados, era dia de ouvir e ver o mais belo fogo de artifici da região. O ano inteiro era de colheita, para naquele dia nada ficar ao acaso, tinha de ser o melhor dos melhores, e as broas as mais fofas de sempre, e o vinho correr pelas gargantas em perfeita sintonia com o espirito.


(...) Engolia em seco enquanto se dirigia ao papel, já estava mais desperto, na casa não havia sinais de viva alma, nem uma luz acesa. Os seus receios, pareciam ter fundamento, e ia pensando no pior enqaunto se dirigia ao papel, aquele post scriptun, pensava na noite de ontem, na outra e na outra, pensava nos dias que tinham antecedido e não conseguia descobrir nada, nada que lhe acalentasse uma novidade, algo que se podesse agarrar.
Olhou para o papel, a sua face ficou lívida, mas aquele papel não dizia mais havia falta de bacalhau, yogurtes e papel higiénico. E foi ai que deu de caras com a sua companheira de sempre que estava deitada no chão com os pés em cima de duas almofadas, sitio onde se refugiava quando andava aflita das costas.

Apeteceu-me


"Os nossos enganos nem sempre são feridos de morte"
Charles de la Folie

domingo, julho 10, 2005

LOUCURA VII

Loucura VII


(...) Os homens pensam demasiado com o “pirilau”, o que os deixa sempre numa posição desfavorável, o engraçado é que eles não entendem mesmo isso. É a natureza do homem ser um animal de prazeres, ou por outra procuram o prazer sem olhar a nada nem a ninguém e depois trama-se. A mulher é muito mais cerebral só vai pela certa, só vai mesmo se tiver a certeza que aquilo que quer, vai ser mesmo dela porque se não, não arrisca, a mulher tem um orgulho proporcional à sua ambição, o homem não tem o orgulho proporcional ao seu pénis, uma vezes grande outras mirrado, umas vezes duros outras, uns moles, por isso o homem é fácil de ser levado, o que não quer dizer que seja tudo assim complacente e igual, há as excepções, o homem magistralmente seguro, com um querer, uma dureza, uma rigidez de processos, de fazer inveja a qualquer mulher, esses geralmente são bichas, uns assumem-se outros mantém-se no seu pedestal, a humilhar quem quer que se atravesse.
Mas as mulheres têm uma coisa muito pior que os homens, não sabem o que é ser leal, todas elas passam a vida a cobiçar o que é da outra. A inveja reina no domínio da fêmea, o problema não é a inveja nem a cobiça, porque os homens também sentem isso. O pior é que as mulheres querem ter e têm, bem se estão a lixar se é marido ou namorado da sua melhor amiga ou irmã. As mulheres não são solidárias com elas, enquanto os homens, podem pensar na mulher do amigo, mas mesmo que ela se dispa a sua frente, não são tentados.
È isto que me deixa estarrecida, e esclarecida em relação a minha raça, eu sei que a minha profissão é tramada, muitas vezes dou por mim absorvida nos problemas das minhas pacientes, mas a verdade, é que há por ai muita futilidade.
As mulheres conseguem ser muito fúteis e vazias, a sua frivolidade deixa-me tonta e confusa, porque apesar de ser mulher devido a forma como lido com os assuntos percebo perfeitamente os dois lado, mas como estou em fase de analise nem quero pensar nisso. Parece-me que estou na fase mais séria da pedra, ai, ai a esta hora estar assim séria até me faz mal a ulcera que ainda não tenho, mas que espero um dia vir a ter.
É finíssimo ter-se uma ulcera, hoje nos dias que correm ai nos clubes da alta sociedade não ter uma ulcera é como não ter um massagista brasileiro, que faz massagens especiais com o martelo pilão que a natureza lhe deu. Mas a história para o bom dos maridos é que é sempre uma mulher que naquele dia faltou, e teve de ser um homem.
Mas os homens fazem o mesmo, mas gostam mais do exótico, preferem umas tailandesas, que chegaram das Filipinas, um pequeno erro geográfico que na cabeça do homem pouco ou nada importa, pior era se fosse um homem, se não for, tudo o que vier a rede é peixe. Esse é um outro problema, um homem não pode pensar, em ter relações com outro homem ou receber carinhos, mas uma mulher é muito mais acessível a esse facto, quer dizer ao facto de poder estar com uma mulher. Diga-se a bom da verdade que esteticamente é muito mais... pois não sei bem como explicar. O homem, ou por outra a raça masculina tem quase toda um fetiche que é estar no meio de duas ou mais mulheres, em pleno desfrute de prazer, pois eu com dois homens nem pensar, até a ideia me parece absurda, mas absurda por outras razões, e não me apetece explicar essas tais razões agora.
Mas estava agora a pensar se o Vasco já terá recebido o raio da carta, para perceber se ele vêm por ai acima ou não, ou se vou ter de mandar vir uma ambulância, só não sei para quem.
Deixa-me ir só ali ao quarto, o marmelo ali está, não faz coisa alguma só dorme só ressona, só ocupa espaço. Bom acho que vou vestir algo de provocante algo que arrase, de qualquer das formas hoje consultas são só aqui para o pessoal.


Apeteceu-me


"Tenho o gosto na ponta do dedo e a sabedora na ponta da lingua" Charles de la Folie

sexta-feira, julho 08, 2005

NO SENSE

No Sense


Há muito anos, recebi de um amigo um porta-chaves, em madeira com um escrito que dizia: “ Não sou perfeito mas tenho partes de mim excepcionais”. Hoje acordei a pensar nisso! Que queria ele dizer quando me ofereceu o porta-chaves? Enfim. Mas no meio dos meus pensamentos, comecei também a matutar, que as pessoas que lêem estas crónicas, devem pensar que sou louco, mas foi ai que sorri (aquele sorriso de quem faz a festa, deitas os foguetes, et caetera, et caetera). Mas também pensei logo que não deve ser assim tanta gente, além da minha Mãe, (dois meses depois quando lhe levo o jornal). Deve ler o director, que é para isso que lhe pago, o compositor e poucos mais. Pensei tudo isto ao ler uma notícia, que focava a possibilidade de, se 600 milhões de pessoas dessem um salto à mesma hora, poderiam desviar o planeta, e assim resolver o problema da camada do ozono!!!! Ocorreu-me logo o paralelismo! Pensei que se tivesse muitos leitores, poderia pedir-lhes isso, mas enfim, infelizmente não chegam. Contudo, posso sempre pedir-lhes para sorrirem quando chegarem a esta parte. Sorriam vá lá!

Andava a procura de mais dados sobre este gigantesco salto, mas não encontrei. Todos os artigos que se referiam a milhões de pessoas, ou eram por morrerem à fome, ou eram vítimas da guerra, ou por lhes escassear a água. Só vi desgraças. Coisas boas só mesmo naquela restrita lista dos 100 mais que a revista “Forbes” costuma trazer. Hoje quando dei o beijo de praxe ao meu filhote de 5 anos (está a ficar um Homenzinho) estava para lhe perguntar o que queria fazer quando fosse grande, mas não o fiz. Tive medo que me respondesse que não queria fazer nada, que queria ser Político. Esse é o meu maior medo. Imaginem o nosso futuro! - Um excesso, uma superfluidade (este fui ver ao dicionário, ou acham que eu sabia o que quer dizer superfluidade) de políticos, de maus políticos, – já não há políticos como antigamente –, ou por outra haverá políticos? Bom mas não vou falar mais desta, pois não sei a definição, mas não será por certo classe trabalhadora.
Aliás não vou mesmo falar de mais nada, não pensem que estou a despedir-me por alguma razão. Aliás não fiquem a rir, nem a esfregar as mãos de contentes, porque não estou a despedir-me. Porque havia de o fazer? Sei que tenho dois leitores, e enquanto não desistirem aqui estarei! Ah, tinha outra coisa para escrever, mas não sei se devo, por uma razão, muito clara e óbvia: não me lembro, e o rapaz quer fechar o jornal, e ainda tem de ler isto, o meu non sense que deixa a interrogação: será que o Mundo está assim ou são as minhas ideias que estarão?

Apeteceu-me

"Porque será que os mais lúcidos são consderados Loucos?"


Charles de la Folie

terça-feira, julho 05, 2005

SOU IMPORTANTE PORRA

Sou Importante Porra


(...) 17 horas da tarde, 30 º um calor abrasador, via rápida da Costa de Caparica, em direcção a RTP/RDP, tive uma sensação estranhissima...



(...) há biliões de anos, há mesmo muitos biliões de anos aparecia, nascia um planeta chamado Terra.
Há cerca de 500 milhões de anos é que apareceu a vida animal, mas ai já a Terra o planeta terra era velho, e o homem, o verdadeiro homo sapiens, esse só tem lugar neste pedaço de história, há 100 mil anos.
Mas no inicio mesmo no principio, vamos dizer a 4,6 biliões de anos...
Quando se formou o planeta, o planeta de todos nós, que possui quatro camadas : crosta, manto, núcleo e núcleo interno.
A crosta é a parte mais superficial, sendo que sua parte externa é sólida, formada por granito e a interna é pastosa, constituída de rochas magmáticas.
É desta que vamos falar, da crosta onde existem montanhas, rochas, pedras, pequenos seixos, brita. Os anos, que passaram as mutações, a decomposição, as devastações, basta imaginar um pequeno espaço de tempo e perceber, a evolução, a destruição... imaginar, a vida a vida de uma pequena rocha.
A arriba fóssil da Costa de Caparica, os milhões de anos que demorou a ser decomposta, aquela montanha que outrora entrava pelo mar dentro, agora resume-se a fazer sombra a uma das mais novas cidades de portugal.
Mas aquela enorme rocha ou montanha, de outros tempos resume-se a areia das dunas, e a milhões de pedras pequenas.


(...) também na costa da Terra, (lá bem no fundo a caminho do núcleo) do planeta Terra, encontra-se vida, o que nos faz viver, petróleo. À laia de redacção da 4ª classe diria, que :
o petróleo é uma fonte de energia não renovável, ou seja, um dia ela irá acabar, pois o petróleo é produzido em condições especiais de temperatura e pressão por milhões de anos. O combustível que utilizamos hoje nos nossos automóveis, carros carrinhos, aviões e outras coisa mais como os barcos e comboios, porque nem todos são electricos, e os que são, que se lixem não fazem parte desta história, dizia eu esse combustivel já foi parte de um organismo vivo que morreu e se decompôs durante milhões de anos.
E para quem não sabe, o petróleo é uma mistura de milhares de substâncias diferentes, na sua grande maioria hidrocarbonetos. Diria assim para terminar, que o combustível é hoje responsável por grande parte da energia que supre (gosto deste supre, é como o nutre) os meios de transporte e indústrias, e é o componente básico da indústria petroquímica, na qual é usada em vários ramos das actividades industriais.
Ahhh, mas o petróleo na forma em que é extraído das jazidas, não tem aplicação nenhuma, tornando-se útil somente após passar por um processo de separação de seus componentes, o que é feito nas refinarias. Por isso não é de bom tom esburacar o quintal a procura dele.


(...) O Automóvel, ou o carro, anda na crosta da terra e utiliza o petróleo. Nada mais obvio, mas não é disso, não vamos obstar se é que isso se pode dizer.
Em 1885/86 apareceu, o primeiro automóvel, os pais, porque alguém o teve de parir, foi um tal de Daimler e Benz, o tal da Mercedes.
É o aparecimento do motor de combustão interna que torna possível o desenvolvimento do automóvel. Vários nomes estão associados à sua invenção, sendo de destacar os alemães Gottlieb Daimler e Karl Benz.
Em 1926, os nomes destes dois homens, que nunca se conheceram, vão unir-se dando origem à empresa Daimler-Benz que produzirá os famosos automóveis Mercedes-Benz.
O primeiro automóvel chega a Portugal em 1895. É um veículo da marca Panhard & Levassor, importado de Paris pelo IV Conde de Avilez.
Na primeira viagem que realiza, entre Lisboa e S. Tiago do Cacém, este veículo é protagonista do primeiro acidente de viação em Portugal ao atropelar um burro.




(...) 17 horas da tarde, 30 º um calor abrasador, via rápida da Costa de Caparica, em direcção a RTP/RDP, tive uma sensação estranhissima,
e tive um encontro com a história, com as várias histórias, que se cruzaram por ali.
Lembrei-me que precisava de Gasóleo que por acaso, já levava 21% de IVA, aquele bem essencial que provem do petróleo, para introduzir no meu automóvel, o IC-20 Tem 8 a 9 quilómetros milhares de carros, em dia de calor, então nem se fala, porque será que uma montanha, que ao longo de milhões de anos se transformou numa pedrinha, tinha de embater no meu para brisas? Ora “PORRA” serei eu assim tão importante, ou serei um grande azarado?


Apeteceu-me
“ Afinal quem somos nós, no meio desta imensidão? Não se preocupem porque somos nós próprios” Charles de la Folie

domingo, julho 03, 2005

LOUCURA VI

Loucura VI


(...)Nesta altura do campeonato tinha de me começar preparar psicologicamente para o que ai vinha, aquela carta ia dar mesmo muito que falar, apesar de eu andar com vontade de jogar outras cartadas na minha vida. E que cartadas, nem vos passa pel vida tinha uma mão maravilhosa, tinha mesmo Poker, o problema é que soava a batota, porque sabia o jogo de quase todos os jogadores isso podia ser dramático, porque me acho uma pessoa leal e com respeito pelos adversários apesar de pensar que isto não era um campo de batalha.
Havia aqui num prédio uma pessoa que me intrigava, era a Dona Henriqueta, a mãe da Palmira, era uma pessoa um bocado enigmática, sempre com um sorriso nos lábios, nunca dizia não a nada... nem mesmo a filha o que causava uma certa estranheza, não por ser tão branda com a filha, mas por ser assim... não sei como explicar. Ela é uma mulher muito interessante até eu sei ver isso, não sei como se aguenta com o marido lá fora durante tanto tempo, não sei, saber sei, eu até que tenho aqui perto a resposta, ou será que é um massajador facial ? pois porque tenho aqui muitas pacientes não admitem que tem utensílios, do diabo e embelezador, ou recuperador de rugas, ou sei lá que mais, até lá tenho uma miúda que tem 24 aninhos, que quer fazer-me acreditar que tem já marcas do tempo. Mas voltando a enigmática e inefável Dona Henriqueta, ela parece-me uma mulher incrivél, mas... há ai um mas, que me deixa reservas, muitas reservas mesmo, assim como a Palmira há por ali um misto de coisas que me fascinam-me, mas também que me assustam, mas têm um ar que ás vezes me deixam a pensar das minhas opções sexuais. Eu sou como um professor meu dizia: “tu disparas em todas as direcções, és uma predadora e pêras”, começava a acreditar nele.
Mas haviam por ali muitos cenários que eu gostava de olhar com algum agrado, por exemplo o Pilitas com a dona Henriqueta, era um cenário plausível, bastante mesmo ele era um amor de miúdo, uma verdadeira máquina de costura, aquele rabinho para cima e para baixo era uma obra de arte, não tinha problemas da precocidade da coisa, aquilo era de “comer” e chorar por mais, além do mais era empenhado naquilo que fazia um verdadeiro explorador, de prazeres, uma bomba, nem quero pensar nisso. Mas a dona Henriqueta havia de gostar mito, ela que tinha aquelas narinas, notavam-se que era uma “doida” do prazer, mas isto era o meu olho clinico a funcionar, mas que ela tinha todas as características de ser uma verdadeira Deusa da agonia sexual, ai... isso tinha, ai tinha, tinha.
Só via ali um handicap, a Palmira, claro, ela adorava o Vasco, mas era demasiado possesiva para abrir mão do Pilitas, além de seu amigo, confidente, penso que ela tinha o desejo secreto de o levar para uma ilha deserta e servi-lo como sobremesa, de uma refeição que ele acabava por ser também o prato principal.
Bom mas a verdade, é que habitavam por ali alguma “aves” raras, algumas? Bastantes mesmo, isto para não falar do energúmeno que continua a roncar, que nem, já não consigo arranjar adjectivos, para dizer o que penso dele. Havia pelas escadas alguns ruídos estranhos de gente a subir e a descer escadas portas que abriam de um lado, fechavam do outro aquilo, a mim dava-me uma vontade de rir que era obra, eu já estava fresquinha que nem um repolho, aquela ervita caiu-me tão bem que nem consigo descrever, mais as bolinhas chinesas que eu estava a usar, também me davam ur ar de felicidade, ar uma ova, aquilo era mesmo felicidade pura, felicidade incontrolável, o que eu acho piada, é que as sex shops, pareciam serem feitas exclusivamente para os homens, mas 87% dos consumidores e também do compradores eram mesmo mulheres, os homens é que achavam que eram caprichos deles, mas coitados, são tão naifs que até mete dó, mas são felizes. Os homens são felizes, porque pensam que as mulheres são ingénuas, mas a sua falta de cérebro leva-os, a cometer erros crassos, como olham para uma mulher na rua e mandam-lhes um piropo foleiro e pensam logo que foram para a cama com ela, e não sabem que uma mulher manda um piropo a um homem e vai logo para a cama com ele, e pior, conseguimos meter aquela cara 38 que eles nunca percebem o que se passou, e eles metem aquela cara de parvo que até se nota que querem divulgar, logo o seu feito.
É por isso que a maioria das mulheres, amantes, só mesmo homens casados, esses não podem abrir a boca.

Apeteceu-me

"O calor que aperta, alarga-nos a resistência"
Charles de la Folie

sexta-feira, julho 01, 2005

SEM DESTINO

Sem Destino

(...) Dias confusos, muito confusos, com e sem vontades de acreditar, que estava ai um novo dia uma nova vontade e ai chegaria por certo uma nova saudade, era saudade para ser celebrada sabe-se lá por quem, e porquê, mas afinal era só mais um dia de trabalho.

(...) Os cheiros misturavam-se, entravam em grandes conflitos, saiam de todo lado,- dos corpos imundos, do álcool “ranhoso” que por ali se vendia, do suor que elas deitavam de horas a fio por ali em perfeitas acrobacias eróticas, ou nem por isso havia um cheiro intenso a alfazema, alfazema barata do barbeiro. O Bafio que por ali emanava era calculado, calculado pela pouca roupa que vestiam, esse cheiro era a dimensão das lantejoulas, se é que se podia chamar lantejoulas, porque já poucas sobravam, tal eram os anos e os corpos que aquelas indumentárias já tinham passado. E porque passavam e porque percorriam, e porque uma infinidade de vezes, as vezes que nós precisamos de interrogar sobre nós, sobre as nossas duvidas.
Era uma casa muito pouco católica, muito mesmo, tinha parado no tempo, elas mudavam, consoante os hábitos, os clientes eram clientes á antiga, levavam sempre uma flor na lapela, perfumavam-se com lavander e desfaziam a barba no barbeiro, sempre muito bem desfeita, como mandava a tradição, neste caso mais o tempo, era assim há muito tempo, era assim que fazia o seu avô, que ensinou ao seu pai e agora, agora parava por ali na sua geração, porque aquela casa onde frequentava com grande parte dos seus clientes, nunca lhe dera uma mãe para o seu filho para lhe seguir as pisadas. E agora, agora já era demasiado velho para o fazer, até para se habituar a partilhar o seu espaço com alguém, já conhecia todos os cantos á sua solidão, aos seus silêncios porque havia agora de desfazer aquilo que lhe tinha dado tanto trabalho a fazer.
Um homem com uma vida assim, podia ser um rezingão, uma pessoa amargurada, de mal com a vida, mas não. Era uma pessoa de piada fácil, de conversa fluida e de muitas histórias, era conhecido pela sua descrição, para ele havia sempre uma solução, os problemas eram sempre resoluveis, recorriam mais a ele do que ao Padre lá do Burgo, até porque não confiavam nele (padre) como poderiam confiar numa pessoa que frequentava aquela casa ás escondidas? Mas o barbeiro, aquele homem de face rosada, com barba branca muito rala, era um sábio um grande sábio, á noite não havia pequena que não o consultasse, talvez por isso nunca lhe quisessem levar dinheiro, mas ele insistia, costumava dizer que toda a gente que frequentava a barbearia era sua amiga, mas se não lhes cobrasse, morreria a fome, era um exagero, mas era a realidade. Só havia uma pessoa que lá ia que não gostava dele, era reciproca aquela sensação de ódio, mas ele sabia, que era mais um e o facto de Ter a lâmina perto do seu pescoço não lhe fazia a mínima diferença, tentava esquecer o que se tinha passado a 40 anos atrás....

(...) Naquele dia confuso, chegou a lâmina mais perto do que nunca, a lâmina que passara a noite a afiar, aquele fio cortava até o ar que se respirava, cortava, não estava ninguém por perto, ninguém que o demovesse dos seus intentos. No ar podia sentir, sentia-se aquele frio que arrepia, que dá vontade, de uma pessoa ajoelhar-se redobra-se, e rebolar-se com dores, mas estava ali com o pescoço do seu inimigo a mercê, de um repente, de um gesto brusco, balbuciou uma roucas palavras, enquanto com a lâmina dava o corte fatal, naquela relação de ódio que durava à 40 anos, ... fizeram as pazes, foi um abraço sentido de 40 anos, quando lhe foi roubada a possibilidade de arranjar uma mãe para o filho que nunca teve.


Apeteceu-me


"Há inimigos que nos ocupam mais tempo que os amigos" Charles de la Folie

A musica é dedicada ao meu amigo BINO do Abrupto Sexual.

O Matador - Royal Suite