segunda-feira, junho 13, 2005

HOMENAGENS

ALVARO CUNHAL 1913 - 2005




"Olhe que Não DR, Olhe que Não!" (6 de Novembro de 1975)


Fuga de Peniche


"A famosa fuga de Peniche foi uma das mais espectaculares da história do fascismo português, por se tratar de uma das prisões de mais alta segurança do Estado Novo.

No dia 3 de Janeiro de 1960 evadem-se do forte de Peniche: Álvaro Cunhal, Joaquim Gomes, Carlos Costa, Jaime Serra, Francisco Miguel, José Carlos, Guilherme Carvalho, Pedro Soares, Rogério de Carvalho e Francisco Martins Rodrigues.

No fim da tarde pára na vila de Peniche, em frente ao forte, um carro com o porta-bagagens aberto. Era o sinal de que do exterior estava tudo a postos. Quem deu o sinal foi o actor, já falecido, Rogério Paulo.

Dado e recebido o sinal, no interior do forte dá-se início à acção planeada. O carcereiro foi neutralizado com uma anestesia e com a ajuda de uma sentinela - José Alves - integrado na organização da fuga, os fugitivos passaram, sem serem notados, a parte mais exposta do percurso. Estando no piso superior, descem para o piso de baixo por uma árvore. Daí correm para a muralha exterior para descerem, um a um, através de uma corda feita de lençóis para o fosso exterior do forte. Tiveram ainda que saltar um muro para chegar à vila, onde estavam à espera os automóveis que os haviam de transportar para as casas clandestinas onde deveriam passar a noite.


Álvaro Cunhal passou a noite na casa de Pires Jorge, em São João de Estoril, onde ficaria a viver durante algum tempo.

Esta fuga só foi possível graças a um planeamento muito rigoroso e uma grande coordenação entre o exterior e o interior da prisão.

Do interior a comissão de fuga era composta por Álvaro Cunhal, Jaime Serra e Joaquim Gomes. Do exterior, organizaram a fuga Pires Jorge e Dias Lourenço, com a ajuda de Otávio Pato, Rui Perdigão e Rogério Paulo."



EUGÉNIO DE ANDRADE 1923 - 2005




Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes!
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.

Mas isso era no tempo dos segredos.
Era no tempo em que o teu corpo era um aquário.
Era no tempo em que os meus olhos
eram os tais peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco, mas é verdade:
uns olhos como todos os outros.

Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor...,
já não se passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.

Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.

Adeus

Eugénio de Andrade


Apeteceu-me


"A Hipocrisia não nos leva as memórias, fortifica-as"

Charles de lá Folie

50 comentários:

Anónimo disse...

Perdemos um grande poeta, sem dúvida.
Felizmente que os poetas são eternos na alma e vivem para sempre no mundo dos livros, renascendo a cada verso lido.
Merecida a homenagem

Anónimo disse...

Foi-se o Homem mas ficaram as palavras. Ainda bem que te apeteceu ;) Beijokas

Anónimo disse...

Um é gerador de amores e ódios... quem sabe de história política dificilmente se mantém indiferente a Álvaro Cunhal, mas também dificilmente alguém o poderá acusar de não ser coerente e fiel aos seus ideais! Fica a obra e a memória, que nem mesmo os mais novos poderão apagar.
Do poeta... torna-se imortal nas suas palavras; já o era em vida, sê-lo-á agora em morte também.
Os dois, como esse da música, marcam um século.

Vênus disse...

Olá
Só conheci este poema hoje através de uma amigo, é belíssimo...
ótima semana pra vc!
Beijos!

JMTeles da Silva disse...

Obrigado pela visita e comentário.

unknown disse...

para sempre saudade de eugénio de andrade..grande poeta....bj voltarei

lique disse...

Boa homenagem... aos dois! Porque os dois a merecem. Zeca Afonso como fundo musical, perfeito. beijos

agua_quente disse...

Ficámos mais pobres com a perda simultânea destes dois homens. Prestas-lhes aqui uma homenagem merecida. Beijos

Anónimo disse...

que descanse em paz :)

Hipatia disse...

Escolhi a mesma imagem e o mesmo "Adeus" de Eugénio de Andrade... Estranho encontrá-los aqui ao som de Zeca Afonso. E, no entanto, faz todo o sentido.

E mesmo que não concordasse com quase nada da doutrina de Álvaro Cunhal, ninguém pode negar a sua importância no séc. XX português e admirar a sua coerência como Homem, como político...

Leonor disse...

Foi um choque! dois homens incríveis foram-se no mesmo dia!

Shore disse...

Até amanhã camaradas.

Anónimo disse...

Acho ainda que deveria ser proibido os lençois em casas de detenção. Afinal de contas, eles so servem pra fazer corda mesmo. Gostei muito da historia, apesar de tantos anos separados, tenhoa impressão que a historia portuguesa continua sendo de uma certa forma a nossa historia.

Madalena disse...

O Zeca teria gostado.

Um abraço!

Monalisa disse...

Mrecem estas palavras e merecem a eternidade na nossa memória. Beijo e obrigada pela visita.

Anónimo disse...

Corajosos, homens corajosos! Fibra assim é rara! :)

Anónimo disse...

quem compara Cunhal a salazar ou hitler não sabe certamente quem são uns e outros, ou melhor não sabe destinguir o trigo do joio.
cunhal não viveu confortavelmente instalado no poder.Cunhal lutou por todos nós, pela liberdade e pela democracia. mesmo quem não concorde ideologicamente com Álvaro Cunhal, não pode negar a coragem , a abnegação, a entrega a uma causa justa.
e isto de a coerência ser um defeito, diz muito dos valores ou da falta deles de quem isto apregoa.
Comparar Cunhal a Hitler ou a Salazar é insultuoso.
e para além do político, o homem inteligente e o artista.

D disse...

gostaria de saber que existirá outro poeta que me conseguirá estremecer com as suas palavras, como eugénio de andrade fez..
um beijo

Anónimo disse...

Sublinho e subscrevo as palavras da Teresa... essa comparação não faz qualquer sentido.
Uns torturaram, o outro foi torturado precisamente para que hoje se pudesse pensar livremente!
Goste-se ou não das ideias que ele defendeu, não se pode negar o facto histórico da importância de Álvaro Cunhal na nossa liberdade

Ana

Anónimo disse...

Foram três vultos da nossa história nos dois últimos dias que partiram.Vasco Gonçalves,Álvaro Cunhal e Eugénio de Andrade.Portugal ficou mais pobre.Revolucionários e poetas todos eles acreditavam no que faziam.Defenderam seus ideais e morreram acreditando neles tanto vasco Gonçalves como Álvaro Cunhal.Eugénio de Andrade poeta e pensador que nos deixou uma grande obra para ser recordado.Boa semana. Arte por um canudo 2

Unknown disse...

Foi um grande homem para todo PORTUGAL, hoje somos como somos devido a muitas pessoas como ele, com coragem e determnação.
tem uma boa semana:)
beijinhos

Maria Manuel disse...

A Álvaro Cunhal, foi precisamente pela coragem, pela fibra, que aprendi a apreciá-lo.

De Eugénio de Andrade figura aqui um dos meus poemas preferidos...

Ambos deixam memórias e obra que bastem para permanecerem.

Lyra disse...

duas grandes figuras deste pais! Foram. Os dois. Adeus.

mfc disse...

Marcaram-nos e continuam a marcar-nos.
Devo-lhes um profundo respeito e recolhemo-nos perante as suas memórias!

Anónimo disse...

gostei de ler, 2 grandes personalidades deste país que lutaram cada um da sua maneira por este povo.

Anónimo disse...

Mais um poeta famoso que nos abandona neste mundo a mt abandonado...

...mas nós as palavras nunca as abandonaremos, pois é por elas que vivemos

Beijos**joaninha

Miguel de Terceleiros disse...

Primeiro que tudo, obrigado pela visita.
Segundo: duas pessoas que tenho pena de não ter conhecido, mas agora é tarde. Resta apreciar a obra e reflectir sobre a herança cultural, o legao que nos deixaram e continuar a luta em todos os campos.

Um abraço.

Anónimo disse...

Estabelecer paralelos entre Cunhal, Hitler ou Salazar é que me parece confuso. Os dois últimos eram inimigos da liberdade. O primeiro sacrificou a própria vida em defesa dela.
Um país pobre e de curta memória perde dois dos seus maiores vultos. Ficámos mais pobres. Todos nós. Talvez a derradeira homenagem seja a de continuarmos a lutar por um país mais justo.
Gostei particularmente da tua homenagem. Até porque te sei oriundo de outras áreas políticas e não te deixaste cegar pela cor.
Esta foi a melhor homenagem que vi e li. Exactamente por isso. De mim, seria de esperar. O meu espectro situa-se algures muito próximo.
Isto que acabaste de fazer fala da tua grandeza enquanto ser humamo. Que eu sei - porque tenho o raro privilégio de conviver contigo - ser um ser extremamente bom.
Ó pá, apetece-me deixar-te um beijo, cunhadão!

bertus disse...

...a Cunhal a homenagem a um homem que se bateu pelo fim de uma época politica de má memória para os portugueses que ainda a viveram como eu.
...a Eugénio o tributo ao artista plástico da palavra que me ensinou a "ver poesia".



NOTA:Atão o post anterior foi pró caixote dos pêssegos podres?! E o comment tão "politicamente correcto! que lá deixei, também, não?! Isto só visto!!

Unknown disse...

Neste blog nada se perde.. tudo se transforma, amanhã a loucura IV volta a ser postada...retirei só para este ter mais visibilidade.

ass:
o presidente

Anónimo disse...

Para mim, estes dois homens têm o dom da eternidade... ainda me custa a acreditar que já se foram deste mundo...

As homenagens são merecidas*

Pedro F. Ferreira disse...

Cada vez que aqui venho gosto mais do que vou lendo e ouvindo. Abraço. :)

Anónimo disse...

Talvez porque não tenho vocação absolutamente nenhuma para poesias, raramente aprecio poetas. Por acaso não conheço a obra de Eugénio de Andrade, sem ironias reconheço que sou um ignorante, em matéria de poetas. Mas gosto de Jorge de Sena e também de Gonçalo Tavares. Este último acho absolutamente fantástico. Um abraço, Carlos. És um gajo fixe. (é para isto que servem os blogs, para conhecer malta fixe).

Anónimo disse...

Anónimo o caraças, fui eu quem escreveu essa cena antes desta. sou, eu o Bino do Abrupto... Onde é que se meteu o sítio onde a gente escreve o nome ?

Anónimo disse...

Olha agora já apareceu... Ó Carlos desculpa lá... aqui a cena dos comentários deu-lhe uma travadinha qualquer que num aparecia o sítio onde pôr o nome. Mas já tá tudo normal outra vez.... Pronto é isso.

sotavento disse...

Uma fuga só para poder dar a cara, tantas e tantas vezes!... E nós?!...

sotavento disse...

E um adeus sempre presente...

Anónimo disse...

Tenho por hábito retribuir os comentários que são feitos no meu blog escrito com letra pequena.Todos os comentários sao agradaveis surpresas mas há sempre alguns que por um motivo ou por outro realçam pelo que depois me é dado conhecer no Blog que visito.
Este é um desses casos, cheguei, gostei do que vi, começando pelo cartão de visita :)
Bem, acho que era capaz de ficar a noite inteira ouvindo essa musica, se há letras e vozes que me deslumbram este é um belo exemplo.
Faço das tuas minhas palavras quando dizes simplesmente que te apeteceu...Se apeteceu vem de dentro, bem explicito como os poemas de Eugenio de Andrade que dizem muito, muito...
Quanto a Alvaro Cunhal que dizer quando ninguem pode negar a grande personalidade desse grande homem, da sua imensa inteligência e na fidelidade inabalável às suas ideologias?

Anónimo disse...

uma justa homenagem a dois Grandes Homens!
gostei da que escolheste para o Álvaro Cunhal, a mítica fuga :)
e do Eugénio de Andrade... amo esse poema... foi também o que postei no meu, lol

Obrigada plas visitas!

BlankPage disse...

Num dia só perderam-se dois homens incontornáveis...num dia apenas perderam-se as palavras...num dia isolado de entre os outros que passaram e que passarão perderam-se as convicções...o tempo fica aqui a amansar sensações...o tempo fica aqui a pleitear sentimentos...Adeus homens de sentires diferentes e iguais...que venham mais assim!!

Post Scriptum - ontem apeteceu-me chorar.

Papo-seco disse...

:)

Micas disse...

Gostei imenso da tua homenagem. Portugal ficou ainda mais pobre mas estes homens já ganharam a imortalidade através dos seus actos e obras. Beijos

Micas disse...

Gostei imenso da tua homenagem. Portugal ficou ainda mais pobre mas estes homens já ganharam a imortalidade através dos seus actos e obras. Beijos

Luís Filipe C.T.Coutinho disse...

Chegaram ao fim do seu caminho apenas mais dois homens. No entanto esses dois homens fizeram e fazem parte de uns tantos milhares...

abraço

Luís Filipe C.T.Coutinho disse...

Chegaram ao fim do seu caminho apenas mais dois homens. No entanto esses dois homens fizeram e fazem parte de uns tantos milhares...

abraço

Anónimo disse...

Olá
Passei pra deixar-te um bom dia!!
Bjokass!

Apre disse...

Bela e justa homenagem!

Anónimo disse...

Esta música... conseguiste que eu chorasse!
Não consigo dizer mais nada. Obrigada pela partilha

Estrela do mar disse...

...eu já fui ao forte de Peniche...e aquilo impressionou-me muito...mas não sabia da história que aqui contaste...

Um beijinho* e continuação de uma boa semana.

Anónimo disse...

morreu o HOMEM, mas ficam os valores e os exemplos que esta figura ímpar deu a todos nós.
o funeral desta tarde prova que o espírito de Abril não morreu.
Até amanhã camarada