quarta-feira, junho 08, 2005

MÁSCARA

Máscara



(...) Aquele olhar, era um olhar diferente, era diferente de todos os que já tinha conhecido. Era gelado, fechado, impenetrável, aquele olhar assustava, assustava de uma maneira cínica e clinica.
Não era má pessoa, nunca foi nem parecia, mas não se conseguia sentir o que lhe ia na alma, os olhos não expressavam nada, eram de difícil leitura, pior não se conseguia chegar lá ao fundo, ao fundo deles.

(...) Ninguém entendeu aquela atitude, talvez nunca ninguém a venha a perceber, naquele dia quem o julgou, e o andou a julgar durante anos deve se ter arrependido, mas gente dessa não tem escrúpulos.
Estava ajoelhado sobre si, cabeça prostrada nos joelhos tinha as suas mãos queimadas.

(...) Os olhos eram suportados por uma face que transmitia calma, uma face delgada, com umas orelhas salientes, um nariz arredondado, vulgo nariz de batatinha. Mas aquele olhar, aqueles olhos que coisa estranha, muito estranho, mesmo estranho, o som que saia da sua boca não condizia, era estranho a maneira de falar, não ligava a voz com o olhar, muito menos o articular dos lábios com a maneira que os olhos gingavam.

(...) Tinha as mãos queimadas, mas nem por isso se queixava, via-se na sua cara uma máscara de sofrimento, um esgar de dor, mas não se queixava.
Quando foi preciso avançou sem hesitar, não pestanejou, não perguntou a ninguém, simplesmente avançou, quando olhou a sua volta...

(...) mais que uma vez pensou, porque seria que as pessoas se preocupavam com o seu olhar, não entendia, nunca usou uma máscara era assim, e mais não podia fazer, mas arrepiava-se de pensar que lhe poderiam um dia roubar os seus olhos, mas isso era um pesadelo um pesadelo meio estúpido que chegava todos os dias... a mesma hora, mas depois acalmava.

(...) olhou de uma maneira, aquela que tinha claro... olhou a sua volta e não estava ninguém... ninguém mesmo a sua volta, fugiram, acobardaram-se e abandonaram-no. Não era isso que o demovia, não era mesmo, avançou de uma maneira decidida e nada o demoveu .. o seu rosto estava fechado, protegia-se, isolou o seu Cérbero, deixou os seu pensamentos voarem, e foi....

(...) A cor, qual era a cor, teria que Ter uma cor, ou podia a imaginar ? mas os olhares não tem cores! E a intensidade com que se olha, poderá se medir a intensidade de um olhar? Aqueles olhos não falavam, pareciam mortos, não cegos, mas mortos, algo se tinha passado por ali, algo de muito grave, algo de muito sentido. Mesmo sem olhar ela era uma mulher linda.

(...) no meio de todo aquele inferno conseguiu, visualizar o que queria, o seu objectivo, tinha de lá chegar a todo o custo, e depois teria de voltar mas ali, primeiro teria de chegar, tinha de conseguir. Estar por vezes é mais difícil que chegar, mas tinha mesmo que chegar, e não podia ficar, rapidamente tinha de tomar em seu braços e abandonar o local, muito rápido mesmo.

(...) naquele dia entendeu, que as pessoas são o que são, o seu olhar estava morto porque nunca quis acreditar nele, mas ele era um bom homem, a verdade é que ele era a melhor coisa que lhe tinha acontecido, apesar de preferir ligar mais a opinião de outros, os mesmos que fugiram e acobardaram-se quando ele arrancou destemido.
O seu olhar só voltou, no dia em que ele lhe disse que a perdoava, ai a sua máscara caiu. Dos braços queimados saltaram aquelas flores brancas que ela tanto gostava.


Apeteceu-me

“Perco-me em pensamentos que não são meus, porque teimo em não ser eu “
Charles de la Folie

40 comentários:

musalia disse...

olá, Carlos :) gostei do teu conto. o perdão, mas mas difícil é esquecer...
obrigada pela tua visita. voltarei.

Delírio da Loirinha disse...

Olá!
Em primeiro lugar queria agradecer a sua visita ao meu blog....
Em relação ao seu post de hoje fez-me lembrar uma frase que um professor meu me dizia na faculdade "Para quê tapar o rosto com uma mascara, se os olhos revelam aquilo que nos vai na alma"...
Beijinhos doces...

Anónimo disse...

Estava a gostar tanto do teu artigo de opinião até tu falares do GLorioso... tinhas de estragar tudo!
Logo a mim, que tornei o "eu engoli um sapo" o hino do ano 2004/2005...
Quanto ao texto, já volto para comentar. VOu dar uma volta para arejar as ideias. DE ficar aqui fechada já ganham bulor. mas comento a máxima: eu perco por tentar ser sempre eu mesma. Talvez devesse udsar máscaras, como todos os que me rodeiam... acho que só assim conseguimos vingar no mundo. CAramba, já aprendi isso c a minha cunhada... pq n aplico a mm regra em relação a tds os outros?
AH! Tenho uma coisa p ti no meu cantinho.
Beijos à Teresa. Ainda não li o artigo dela...

Anónimo disse...

máscaras há muitas e caras também. por exemplo, abundam as caras de pau.
jinhos doces, ramelosos, pegajosos,

Viuva Negra disse...

usam-se mascaras por várias razões, primeiro para se escoderem , nada mais facil que assumir outra identidade, oiutras por timidez , outras por preversão...
perdoar é facil , esquecer não
dizem que perdoar é esquecer , entã assumo, a minha total capacidade para perdoar porque raramente esqueço coisa alguma ...

Anónimo disse...

Adorei seu espaço.
Até linkei!
Beijinhossssssss

Anónimo disse...

O bom actor sabe mentir até com os olhos, nem que seja tornando-os como uma barragem - essa, assim, impenetrável. O bom actor, o actor da máscara.

BlueShell disse...

Hoje quase me fazias chorar...Gostei, deliciei-me com este teu texto...

Beijufas, BShell

Anónimo disse...

O prometido é devido (mas não tiro o vestido).
TIve de começar com um toque de (mau) humor porque o teu texto emocionou-me, deveras. [hj estou assim... não sei porquê; ou será que sei? - não importa.]
Emocionou-me mesmo. A constante luta contra nós mesmos, contra o revelar de emoções, o proteger a intimidade da intrusão... e o ofertar de flores brancas...
É de facto um belíssimo texto e cheio de sensações e de sensibilidade (não, não é necessariamente a mesma coisa)

Teresa: como sempre um artigo cheio de qualidade. Mais não sei dizer.

Beijos aos dois

Anónimo disse...

Hoje vim só ver os bonecos (preguiça de ler). Mas curti a ultima frase. Eu, por exemplo gosto é de vadiar com o cérebro. Boa noite.

Anónimo disse...

Oi!!!!!!!!! Seu blog é muito bom!!!! Bom mesmo!!! Parabéns!!!! Passa lá no meu quando puder e deixe seu comentário ok??? é pra ir hein... To esperando...bjs!

Anónimo disse...

Máscara quem não a tem?Quantas mácaras invisiveis que cobrem a verdadeira faceta da cara. Já se viu que se não fosse a máscara, abundavam as caras desavergonhadas, as caras de pau, as caras que não dão a cara, as caras roidas de inveja e outras tantas caras mais.Arte por um Canudo 2

Vênus disse...

Olá Carlos,
Não te conheço direito, o que sei de ti é o que escreves mas adoro ler-te...Mesmo quando venho em silêncio.
Tem desafio no meu blog...Está frio por lá! "Storm"
Bjs*.*

Anónimo disse...

As coisas só fazem sentido quando cai a máscara. Para o melhor e para o pior. Não há nada melhor, em minha opinião, do que a verdade. Mesmo a que dói. Texto belíssimo... Beijo grande :)

A. Narciso disse...

Obrigado pela visita que me permitiu vir conhecer a Republica dos Pessegos. Gostei e voltarei.
Abraço

Anónimo disse...

Olá, agradeço a visita.
Gostei do blog...e adoro pêssegos! Lol

Maria Heli disse...

Gostei muito. Tudo. Do que li.
Está-se bem por aqui.

Francis disse...

Obrigado pela visita, Carlos. Gosto da tua escrita é bastante mais refinada do que a minha :-)
Vou meter-te nos meus links, se não te importares.

Luís Filipe C.T.Coutinho disse...

E por fim detrás da máscara uma amostra de sorriso, um esboço de dentes cerrados num esgar de um medo por desconhecer a figura reflectida nos olhos de quem a olhava...

abraço

Pecola disse...

obrigado por nos dares boas palavras por onde nos perdermos

Anónimo disse...

TENHA UM DIA ILUMINADO!!!
BJOKAS
Ilumine sua vida!

Embora sozinho, continue a caminhada!
Se todos o abandonarem, prossiga sua jornada.
Se as trevas crescerem em seu redor,
mais uma razão para que você mantenha acesa a pequenina chama de sua fé.
Não deixe que a sua luz se apague, para que você mesmo não fique em trevas.
Ilumine, com sua luz, as trevas que o circundam.

Mensagem extraída do livro "Minutos de Sabedoria"
C. Torres Pastorino

Anónimo disse...

[O seu olhar só voltou, no dia em que ele lhe disse que a perdoava, ai a sua máscara caiu. Dos braços queimados saltaram aquelas flores brancas que ela tanto gostava.]

lindo mesmo, só um imaginação fertil como a tua poderia construir um belissima historia como esta, e com um final feliz!

Continuação d optima semana

Bigada pela tua visita ao trilhas.
...
beijinhos**Joaninha

unknown disse...

mt bonito..sabs o k me parecE???? um pouko de pedro paixão..filosofia incerta...bjs voltarei..bigada por ires ao meu

unknown disse...

mt bonito..sabs o k me parecE???? um pouko de pedro paixão..filosofia incerta...bjs voltarei..bigada por ires ao meu

Anónimo disse...

às vezes sabe tão bem sermos actores .Inconfidente

Anónimo disse...

Por detrás da máscara esconde-se o melhor gajo que conheço: tu!
Não és apenas meu cunhado. Considero-te um irmão. Mas tu sabes disso.
Abrações

Anónimo disse...

Muito bom! Saio sempre com vontade de voltar.
Espero que passe na Galinha.

JM

Anónimo disse...

Ó Zézinho, o Charles ficou tão comovido que nem consegue falar, é só baba a cair-lhe dos queixos... Tens que refrear o subconsciente homo...

Fragmentos Betty Martins disse...

Carlos

Meu Deus, que POESIA!!! do primeiro parágrafo ao último, está MARAVILHOSO!

Beijocas

Anónimo disse...

oh lala! quelle tendresse!
gros et tendres bjokas

Gatinha disse...

Às vezes, só às vezes, gostava de ter olhos assim.
"Perdoar é fácil, esquecer é q é difícil"
*

bertus disse...

Belo texto!
O concelho de Almada bem representado na blogsfera...

Anónimo disse...

Gostei do conto e principalmente do pensamento...

Beijinhos e bom fim de semana*

Shore disse...

Todas a gente tem máscaras!
Quantas tens tu? Excelente Colecção.
Se tiveres repetidas e quiseres trocar...

Abraço

D disse...

és único carlos.
:)

Anónimo disse...

que grande pessegada que aqui vai, mas voltando ao tema, não há mascara que esconda a alma.

Raquel Vasconcelos disse...

"onde se afrontam os imortais, ou será os imorais...mas a lua não da descanso as trevas...vencem os bons novamente..."


Sobre o que deixaste...
falava-se de miaus e todos preferiram a lua...
mas bolas... saltar p os imorais... ohhh deprimência...


PS
Ainda não te li convenientemente... ou seja, com paz de espírito, pq cada pessoa que eu leio é para ler à séria, "ver" realmente o que ela nos conta...

Entretanto agradeço as visitas...
Até lá...

Ana, Dona do Café disse...

Máscaras todos nós temos nas mais variadas situações...
a minha preferida: quando escondo a cara nas mãos a ver se o mundo pára por um instante :)

Beijo
ps- assustei-me com as guitarras da música quando entrei...ninguém me manda ter as colunas no máximo! lol:P

Anónimo disse...

Os olhos dizem tudo, pena é o pouco valor que lhes damos. Primeiro pq qd olhamos vemos o que queremos e não o que nos dão para ver, e qd somos olhada(o)s o mesmo é-nos retribuído, depois pq para olhar é preciso ter olhos de ver, e para isso necessitamos de disponibilidade, tb pq qd temos algo p mostra imensas vezes teimamos em esconder o que quer ser mostrado. Porquê? Porque dói demais ver que ng viu... Pois, talvez quem vi hoje tenha sentido o mesmo pelo pouco que consegui realemnte ver.Fica bem,

Anónimo disse...

Belíssimo texto este!!! Perdoar...algo que muita gente não consegue fazer. A mim a vida ensinou-me a perdoar, levei tempo, mas consegui. Uma aprendizagem que julgo ter-me enriquecido...estranho não? Beijo grande