quarta-feira, julho 13, 2005

CLANDESTINO


Clandestino
(...) Não estou habituada a estas coisas! Há coisas que me fazem muita confusão entender!

(...) A separar-nos estava uma estrada estreita, de um lado ao outro do passeio era muito pouco, poucos metros, sentia-se o cheiro, o cheiro daquele perfume barato pouco discreto, mas... era optimo, vê-lo, vê-lo daquela maneira fantastica, era um homem robusto, caminhava firme, cada passo uma história, um pensamento, uma memória.
Mas quem era aquele homem misterioso, que nunca ninguém lhe viu os olhos, sempre com os olhos tapados por uns oculos muito escuros.
Grande parte das vezes mantinha-se encostado a parede com um pé sobre ela, parede claro, onde esfumaçava um cigarro, no canto da boca, quase até ao filtro sem nunca o tirar da boca, era impressionante o equilibrio que fazia com a cinza que se mantinha na forma do cigarro até ao fim, ate ser sacudido e atirado para a sargeta. Debaixo do baço o jornal do dia, um jornal meticulosamente enrolado, era assim todos os dias.

(...) Todos os dias ficava ali parada a olhar para ele, naquela esquina fria, entre a rua das modas e a rua dos sapatos, era o sitio onde podia vê-lo sem ser vista, teimava em estar ali, reparar em todos os movimentos, e meticulosamente engendrar danças e contra-danças na minha cabeça, com aqueles pequenos movimentos que via, olhava-o como se fosse um alvo... um grande e enorme alvo, que me tinha declarado guerra em tempo de paz.

(...) Aquela calçada, inacabada onde caminhavam milhares de pessoas por dia, entre o nascer e o por do sol, onde se movimentavam, os produtos, que eram transacionados naquela zona comercial da cidade.
Uma calçada com histórias imensas histórias para serem contadas e sonhadas... era naquela calçada, que se encontravam muito da indentidade das pessoas, bastava olhar para as descobrir, imaginem um papel de pastilha meticulosamente embrulhado... diz muito da personalidade de quem o fez, um bilhete de metro rasgado aos pedacinhos, demonstra nervosimo e insegurança, entre muitas e muitas revelações.

(...) Era um homem de caracter imprevisivel, apesar daquele chapéu de aba larga, não muito mas de um destinto feltro preto, nunca era possivel desvendar ou descobrir, melhor prever, quando o tirava para fazer malabirismos com ele, o lenço que ostentava no seu pescoço era de uma seda finissima, oriundo das Asias mais longinquas, se é que a Asia é longinqua seja lá ela qual for, mas era um homem surpreendentemente belo para a idade.


(...) Interrogava-me se ele algum dia tinha lido algum daqueles jornais, que todos os dias, mantinha debaixo do seu braço, ou se seria sempre o mesmo, é que nunca o vi a olhar sequer para ele. Mas parecia um homem bem informado e formado, era de certeza, havia pelo menos essa certeza em mim apesar do muito tempo... que ali passava e passara.

(...) Naquela calçada, foi ali que há muitos anos pai e filha, passeavam, antes de um ter abraçado uma causa impossivel de largar e outro ter fugido por outras causas que não o amor.

Apeteceu-me
" Onde ele anda ninguèm sabe mas quando aparece, corroi"

Descobri-te, estavas lindo neste dia, adorei conhecer-te a ti e as tuas amigas, até um dia deste BINO
Charles de la Folie

18 comentários:

maria disse...

Olá... olha quem aqui chega mesmo no instante em que por cá passeio! e traz uma calçada, ondeante... gostei logo muito da imagem, assim, mareada que fica a "vista"... do enredo?! ora pois sim, anda aqui este nosso amigo em disparada de non-sense, digo eu, que fiquei meio de banda, com a leitura aos saltos pelos olhos turvados com o "jeitozaço-retratinho" final! ;)

Anónimo disse...

Gostei muito do vai-e-vem do texto. Muito mesmo.

Agora, a foto final, ó...;))

Anónimo disse...

Oi. Muito interessante o texto. Desejo a você um super fim de semana. bjs

Anónimo disse...

Bom texto...

BlueShell disse...

Impressionante a maneira como escreves.
Jitos, BShell

Anónimo disse...

Ahahahahahahahahahahahahahahaha ia caindo da cadeira de tanto rir. Mss repara que os olhos são meus.
Abraço

Anónimo disse...

Olá Carlos, é cativante, impressionante, excelente a forma que escreves... gostei!
Bom domingo =)

Freddy disse...

Estilo e glamour...
Abraço da Zona Franca

Raquel Vasconcelos disse...

Confesso que desta vez fiquei baralhada... :/

Titá disse...

Gostei muito!
Confesso que estou tão ondulante como as ondas da calçada que tens na 1ª foto...(não vou comentar a 2º foto)
Gosto muito fa forma como escreves.
Bjs
Tita

Indibiduo disse...

Oh carlos, já pensas-te em escrever um livro(se é que já não escreves-te)?

Um abraço

Indibiduo disse...

Ah, e grande música...

Anónimo disse...

Como sempre um belo texto, para ser lido com calma..:) Já a foto..pois...ok..:) bjs

kikas disse...

Este tipo de escrita é um espanto...e a acabar com uma ilustração destas...
beijocas
kikas

Viuva Negra disse...

Ah!!! os pessegos já não são o que eram ... esta sem dúvida genial ... a ciatividade no seu melhor ... boa !!!

Anónimo disse...

agarra o leitor esta escrita... gostei disto pá... pequenos pormenores que marcama diferença... voltarei... grande bem haja

augustoM disse...

Caro amigo Carlos
Existem pessoas que parecem que pararam no tempo, mas não é mais do que uma forma de se auto excluírem do mundo em que vivem e que lhes desagrada, obtendo assim desta maneira, uma posição marginal, que lhes permitem manifestar a sua rejeição.
Um abraço. Augusto

der_letzte_mann disse...

olha olha, conheces o Bino, o primo do borges, o meu amigo de Braga! Amigo do Bino, meu amigo é! Aquele abraço