terça-feira, abril 05, 2005

Fenda

Fenda (teimosia)

(...) No momento em que baixava a perna para pisar o solo, sentiu o chão a abrir-se mesmo à sua frente uma enorme cratera, parecia que alguém estava a abrir o chão com uma grande faca de abrir ostras.
Não se esquece daquele dia, mais um passo e teria voado para outras paragens, a terra fendia-se, um cheiro nauseabundo e enjoativo sai das profundezas daquela terra rasgada. A terra começava a ceder, saiam vapores de vários tons mas predominava a cor amarela. Um som estranho e agudo começava a percorrer aquela zona, a terra voltava a abanar e a ceder desta vez mais forte, estava completamente desequilibrada, o meu destino era ser comida pela fenda, quando senti alguém a puxar-me pelo ombro.
Cai, desamparada no chão longe da fenda, já muito longe, à minha volta não via viva alma, fiquei sem saber o que se passava, debaixo de mim um barulho ensurdecedor, pareciam canos de água quando estão prestes a rebentar, mas ali o barulho estava em crescendo a uma velocidade, a um ritmo muito alto, apercebi-me que uma fenda vinha em direcção a mim, não vinha abria-se, levantei-me e comecei a correr em direcção a nada de especial, corria, esbaforida, ofegante, parecia... nada! a vontade é deixar-me por ali e ser apanhada por aquele enorme buraco, que vinha a minha procura, lembrei-me de virar rapidamente para um lado, e correr ainda mais forte, no meu ultimo folgo, quando cai senti as minhas pernas a tremer, todo o meu corpo tremia, mas a minha respiração misturava-se com a terra. Queria pensar, pensar em muitas coisas mas nada me vinha a cabeça a não ser aquela imagem da terra, do chão a abrir-se, do solo a lacerar-se, a separar-se.
Estranho, mas não vi viva Alma, nem o tempo que passou, não sabia nem do tempo nem de gente, nem de quem me puxou quando estive prestes a cair, tudo era estranho, mas ao fundo via mais um brecha a abrir-se, esta parecia vir muito mais rápida, era impressionante, fazia vácuo, sai muito pó de depois rapidamente o pó recolhia, para dentro, estava pasmada, abismada era mais o termo, mas realmente estava hipnotizada, nada no seu corpo se movia nem os olhos pestanejavam, o ruído, o barulho, o som estava cada vez mais perto, era cada vez mais ensurdecedor, mais esgotante, esgotava aquele som, aquela imagem, esgotava tudo a paciência, os nervos, de mãos cerradas e de um só pulo virou-se e novamente começou a correr, desta vez aos pulos de um lado para o outro, sabia que assim não corria riscos, não sabia que riscos... mas não corria, era isso que o seu 6º sentido lhe dizia, quando olhou novamente, as coisas estavam outra vez mais calmas.
Olhando bem, as várias fendas estavam a abrir-se, com um padrão definido, o que queria dizer, que tinham vida própria, ou então havia mão divina.
Parecia, que o pior já tinha passado, porque aquele padrão era..talvez fosse um tabuleiro enorme de xadrez, eram vários quadrados, geometricamente desenhados.
A sua vida tinha sido vivida sem padrões definidos, talvez por isso não tinha sido apanhada, ela pensava, enquanto o seu peito não tinha descanso, tal era o ofegar da sua respiração, uma respiração funda, que magoava, quando chegava aos pulmões, magoava pela adrenalina solta e ansiedade em que vivia.
Parecia que estava constantemente na corda bamba, parecia uma equilibrista nata, mas não. O que ela fazia era viver a vida, senti-la a cada momento, respira-la.
Mais um estrondo, agora via a vegetação toda a recolher para dentro da terra, era um espectáculo de se ver, era sim ela estava a gostar do desafio, a sua vida finalmente tinha um sentido fugir das armadilhas, dantes escondidas, mas agora sabia-o, que estavam ali eram visíveis e directas, como um jogo de Xadrez, mas como tudo na vida. O xadrez não tinha imprevisibilidade, as jogadas eram todas estudadas até a exaustão, bastava esperar por um erro, até porque ao longo da vida tinha aprendido com os erros dos outros, mas nada que fizesse perder o sono, queria mesmo, ultrapassar aquele dia aquela fase, de mais uma letargia constante.
Estava na hora, tirei os olhos dos meus colegas e continuei a trabalhar, ainda não era desta vez que ia ser promovida. Não queria mesmo afundar-me como eles e ser mais um numero, preferia mesmo o meu nome.


Apeteceu-me

"Um buraco evita-se com um desvio, uma queda ultrapassa-se com dor" Charles de la Folie

6 comentários:

Anónimo disse...

espectaculo:):):)
eu prefiro aprender com os meus erros, gosto de viver, sentir e saber como é.

Anónimo disse...

QUE COMENTÁRIO MACHISTA. ALÉM DISSO, OS FACTOS PROVAM QUE OS CARGOS DE CHEFIAS, DE DIRECÇÃO E AFINS SÃO OCUPADOS POR HOMENS.
SE AS MULHERES SOBEM AS SAIAS, CONCLUO QUE OS HOMENS DESCEM AS CALÇAS.

Conceição Paulino disse...

Olá, gostei de vir ao teu cantinho, à tua casa virtual. Tenho k voltar com + tempo p/ ler + das coisas k postaste. Gostei. Bom resto de semanan. Bjs e ;) e obrigada pelo poema k deixaste lá em casa.

Anónimo disse...

venho agradecer as visitas e comentários. gostei do blog. abraço

Cris disse...

Pois... às vezes caminhamos pela vida e nem damos conta dela, outras vezes ela prega-nos destas partidas, obrigando-nos a reagir, a contornar, a decidir!...

Beijinho

D disse...

é nas quedas que revelamos quem realmente somos e a nossa verdadeira força. Gostei muito da frase final. Beijos carlos