domingo, fevereiro 20, 2005

Ansiedade Fatal

Ansiedade Fatal


(...) Que merda, mais um dia de ansiedade, mais um para juntar aos muitos que se tem perdido por mim, esta angustia esta inquietação de espirito, esta impaciência é comum a todos os mortais, mas eu sou imortal, quero ser imortal, desejo imortalizar-me, que estupidez, é estúpido pensar assim, claro sou estúpido, mas se sou estúpido porque penso?
A nossa historia é feita de incertezas, de Deus, de Deuses, de prazeres e de vontades e limites.
Os nossos limites as nossa barreiras, são saltos contínuos, vontades de nos descobrir-mos e ai chega a historia que vos quero contar.

(...) sentado, naquele pequeno tronco de madeira, um tronco de um enorme carvalho, cortado há mais de meio século, a mais de muitas vidas, onde muita gente se sentou desejou e prometeu, amores eternos, pensava nos dias que corriam, sentia aquele fresco da manhã que nos fazia dar voltas ao estômago, sentia o cheiro das acácias e das begonvilias, era uma manhã como muitas outras, não fosse aquele o dia que tinha combinado por carta conhecer alguém que sonhava amar.
Naquele tronco estavam cravados, na madeira, vários escritos feitos a navalha alguns, com pedras aguçadas a laia dos homens das cavernas, sobressaia um escrito que gostava particularmente,” O sonho comanda a vida” .
Lembrava-me, como se fosse hoje, dos poemas de António Gedeão, então da pedra filosofal era um hino para mim, um hino à minha capacidade de sobreviver, de sonhar e de existir.
Ali estava eu sentado no meio de um campo verdejante, não muito distante das habitações daquela pacata aldeia que me viu nascer, ouvia-se ao fundo o riacho, não um riacho mas o riacho, o riacho da minha aldeia, aquele que eu considerava único, aquele que eu conhecia os sons de cor, os ressaltos nas pedras, gastas de tanto agua as atravessar ao longo dos anos era o ribeiro, os pássaros, o chilrear dos pássaros, o coaxar das rãs, sentir aqueles cheiros que só ali se desenvolviam, perto do riacho, dos fungos e musgos, que cresciam naquelas rochas.
A rapariga a que eu tinha escrito, para a conhecer, era alguém que eu tinha sonhado ser perfeita para mim, é verdade, que não tinha nascido do acaso, claro que nem podia ser assim, uma amor nascido por correspondência, onde já se tinha visto, em dias como aqueles, mesmo sabendo que já não vivíamos nos anos 60, estávamos em plenos anos 70, a tecnologia avançava as pessoas já não ligavam as mini saias (excepção feita ali na aldeia) a ideia de amores feitos por correspondência tinha ficado na II Guerra Mundial, é certo que aqui morria com o fim da guerra colonial, 20 e muitos anos depois, mas os factos nesta altura são o que menos me interessavam.
Pouco ou nada sabia dela diga-se em bom da verdade, enquanto esperava ali sentado naquele tronco de carvalho, de pernas cruzadas, mãos entrelaçadas e que, de vez enquanto as levava por cima da cabeça como se me estivesse a exercitar, mas mais não era que afastar o nervosismo, aquele nervosismo miudinho que não mata mas mói, as vezes, ficava pálido de imaginar ela aparecer ali de rompante, mas no fundo apesar dos avisos, que ela vinha, que ela aparecia, eu tinha quase a certeza que não aparecia, fazia-me lembrar a história uma longa e bonita história, de Gabriel Garcia Marquês, em “Amores em tempo de cólera” de um amor impossível, mas nunca esquecido, e que ao, fim de 70 anos foi retomado, mas essas história para aqui não interessam, claro que não, são mitos, são historias.
Mas sabia que ela não ia aparecer, no fundo, sabia e preparava-me para acrescentar aquele, tronco de madeira cortado há sei lá quanto tempo, uma bela frase, não de Gedeão, mas de alguém que me apetecesse sentir naquela altura, lembrei-me de um Salmo da Bíblia que tinha guardado há muito, nem me lembro porquê mas que dizia assim :

“Olhei para a direita e vi; mas não havia quem me conhecesse.
Refúgio me faltou; ninguém cuidou da minha alma.”

A verdade, e que naquele pedaço de madeira onde o tempo deixava marcas escritas, descobri varias coisas, uma e a mais importante que, a ansiedade deturpa os nossos pensamentos, e naquele momento era tanta que tinha chegado uma semana mais cedo.


Apeteceu-me

3 comentários:

Anónimo disse...

E não é que eu estou a votos? Quem haveria de dizer...
Ora aqui estou eu...

Em tempo de eleições, vote no "blog" que melhor o compreende, que lhe dá cultura, que não se esquece do autores portugueses e, que acima de tudo, lhe proporciona momentos felizes... por isso, vá a

http://peciscas.blogspot.com/

e vote, em mim...

Menina_marota

como o Nik com mais "pinta" da blogosfera...eheheh

Meu manifesto em:

http://eternamentemenina.blogs.sapo.pt/

Um beijo e um :-)

Anónimo disse...

"Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso,
em serenos sobressaltos
como estes pinheiros altos
...."

Deixo-te um beijo apressado, mas não tão apressado, que não tenha lido o teu texto, e o meu espírito tenha vogado na ansiedae de ser, mas não parecer, aquilo que a minha alma deseja.

Bom domingo :-)

Unknown disse...

"A" escreves como ninguem pensas como ninguem, sabes o que fazes o que dizes, fazes, e anseias fazê-lo tens força para isso...o proximo texto é teu...sentes a musica e vai...vou já posta-lo