sábado, fevereiro 12, 2005

Batalha (amorosa)

(A minha) Batalha



(...) Havia sangue por todo o lado, naquele pedaço de terra que outrora tinha sido uma plantação de arroz, agora jaziam corpos sem fim, era mais uma plantação de horrores.
Naquele dia por entre a névoa, aquela névoa que existe sempre no imaginário de cada um, que parece aparecer no fim de uma batalha.
Aquele nevoeiro ensanguentado e molhado, que envolve odores que transmitem o sabor do suor misturado com saliva. Sangue, estrume e alguma adrenalina, havia quem no calor da luta tal o seu empenho tivesse orgasmos, espalhasse o seu sémen por aquela terra, uma luta que dura horas, dias mesmo, as suas necessidades eram feitas ali, em plena batalha.
Era desumano ver, aquele cenário assustador, aterrador, cruel, de uma brutalidade sobre-humana, mas era assim, era assim que os senhores da guerra queriam, era assim que eles mandavam, a vida, pouco ou nenhum valor tinha, o dos outros claro, porque para os Senhores, a vida deles tinha de ser preservada continuada e vingada.
O barulho era ensurdecedor, as laminas esgrimiam-se, se é que esta palavra pode mostrar ou evidenciar, o barulho que das espadas a embaterem, umas nas outras, a embater no broquel, nos escudos, aquele pedaço, aquele pequeno pedaço de chapa, que estava encaixado no braço, no braço esquerdo, aquele pedaço de vida.
O Sol começava a baixar, estava vermelho, mas um vermelho fogo, que reflectia, nas poças de sangue, um conjunto gritos, de pessoas a serem brutalmente esmagadas, era impressionante, o que aquele sangue representava, representava milhares de vidas de pessoas, aquele sangue, que dentro veias tinha a força de mil homens, e ali jazia, permanecia, persistia, quieto amontoando-se.
O sons das flechas a rasgar o ar, a percorrer aquele espaço era como um chamamento um cantar, o assobiar de uma melodia de morte, eram milhares de setas ao mesmo tempo, o som do vergar do arco, de milhares de arcos, o som do cabo, o largar do cabo, dos cabos que empurram as flechas em direcção ao céu, onde assobiam um barulho ensurdecedor, ganham altura e depois no limbo o silencio, ali naquela fracção onde a força da subida para e começa a descida vertiginosa, o som mortal e brutal, parecem vespas, a laminas abrem caminho e, as penas de pombo mais macias, conduzem, a uma nova velocidade a uma nova vida a um novo jorrar de sangue.
Depois é mais uma maneira de morrer, o som das setas a entrarem a consumirem a carne humana, é grosseiro, um som vazio agudo e ao mesmo tempo oco, a maior parte das vezes mistura-se com o som de morte, com o suspiro final, com aquele definhar lento e agonizante da vida.
O matraquear das espadas, que se digladiam, é horroroso, mas ao mesmo tempo belo, são movimentos ao contrario que se julga, lentos, mas violentos, as laminas a roçarem uma na outra é uma bailado digno da sua morte, os corpos que as manobram, são corpos hábeis, os músculos saem do corpo, mas os que mais impressionam são os músculos do pescoço, que saem todos para fora parecem que vão rebentar a veia jugular, torna-se num enorme tubo que alimenta o Cérbero, e que o mata de raiva,.
As espadas, ficam encandescentes tal é a violência, deitam labaredas que só, os seus olhos vem, a limalha que libertam são pequenas farpas, que se cravam na carne descoberta por milhentos cortes, fio da espada a bater na carne rasga-a irremediavelmente, os cabelos acompanham o movimento dos braços, cabelos fartos encharcados de suor.
O grito que é solto quando a espada entra pela carne, mais não é que o grito de uma mulher virgem, penetrada pela primeira vez num acto continuo e violento.
Apeteceu-me

(Este faz parte de uma série de textos dedicados ao São valentim)

5 comentários:

Rosa Cueca disse...

Impressionante...

Oma Eddie disse...

Intenso... Impossível não visualizar tudo tal como é descrito.

Anónimo disse...

a maneira como descreves o que se passou é tão facil visualizar tudo.
venham mais.

isa xana disse...

intenso. muito bem escrito e descrito.
jinhu

Ana, Dona do Café disse...

uiiiii :P mt bom, cm sp...
beijo