quarta-feira, fevereiro 23, 2005

Guerreiro urbano

Guerreiro Urbano (KULA SHAKER- PLAY)


(...) Naquele momento naquele preciso momento, quando fugia a toda a velocidade, por entre a multidão que se dirigia a lugar algum, voltou-se para trás e, tudo parou, fixou os seus opositores, cada espaço que ocupavam maneira de correr, andar, de olhar, como o fixavam como vestiam o que transportavam nas mão as suas mochilas, naquele momento os seus opositores, estavam marcados.
Depois olhou em redor, para fixar pontos de apoio ás suas fugas, ás suas manobras, aos seus desafios, sabia-se que era ali, naquele momento, que tudo se ia desenrolar, a rapidez de movimentos era crucial à sua estratégia, estava nervoso, muito nervoso era a sua primeira vez, mas tinha sido programado, programado não, é uma palavra demasiado mecânica e, irrealmente superficial, tinha sido amado e treinado, para um dia como estes não falhar, não podia falhar, era demasiado cruel para os anos de dedicação e sacrifício(s).
A sua volta, enormes edifícios a rasgarem os céus, as suas janelas espelhavam o Sol que raramente se via directamente, as nuvens passavam a uma velocidade quase alucinante, os candeeiros de rua pareciam curvar-se perante a eminência da peleja, daquela briga, do combate, os semáforos, pareciam fora de controlo, o asfalto estava mais negro que nunca, as sarjetas fumegavam dos dejectos que por lá se acumulavam, as tampas que selavam os milhares de túneis que se estendiam pela cidade, estremeciam, tal era a energia que aquele corpo libertava.
A vida á sua volta lentamente começava a tomar o mesmo rumo em direcção a lado algum, respirou fundo e com uma energia desconcertante virou-se para a frente e começou a correr, o seus passos decididos, faziam lembrar uma pantera, rápido como uma gazela, veloz como um tigre, ágil como o vento.
De dentes cerrados, e olhar decidido lá ia ele, com uma camisa de xadrez rasgada nas mangas, por dentro uma camisola com um capuz cinzento, as calças largas feitas de sarja com imensos bolsos, calças claras, claro, escondiam o movimento dos músculos, daquela massa e fibras, aquele poder de contracção e relaxamento, olhar por entre o tecido e ver aquele movimento em câmara lenta era de uma beleza que agredia.
O tronco quase perfeito uma obra de arte, parecia uma lamina de quase cortar a respiração, um V perfeito os abdominais definidos, os músculos abdominais, que seguravam e suportavam na perfeição a coluna, a espinha, o dorso, os músculos peitorais achatados não muito grandes, era um corpo de sonho de muito treino de muita agilidade, um corpo perfeito para michel-ange ou por outra Miguel Angelo o génio da Renascença um dos muitos génios daquele período, poder pintar, poder transportar para uma das suas esculturas, fazer dele o que quisesse e pudesse, abusar, satisfazer o seu dom.
Em plena corrida, e de um salto só, muda de direcção e de outro salto coloca-se em posição frontal aos seus opositores.
Frente a frente os olhares, cruzam-se só um pode vencer, só um pode chegar, só um pode ter, é uma questão de honra, uma questão de dignidade, de saber quem tem o poder de mudar o seu próprio rumo.
Na Rua, as pessoas mexem-se sabem do conflito, mas não querem participar, é um conflito antigo diário, de uma preparação quase angustiante para aquele desfecho.
De costa voltadas, sem olhar os seus oponentes, sobe devagar e controladamente uma pequena escadaria, pé, sob pé, tacteando, degrau sob degrau, chega ao final, sente as suas costas tocarem numa porta, aconchega bem as costas naquele vidro frio, de que é feito a porta.
Naquele momento, os olhos fixam-se mais uma vez nos seus inimigos, e por momentos, sustem a respiração, revira os olhos conta até dez, antes de fazer um movimento brusco quase irreflectido vê os seus demónios a auto destruírem-se, caiem como um baralho, parece um espelho que acabou de se quebrar, muitos espelhos, muitos pedaços, um barulho quase ensurdecedor.
E de repente no seu gesto brusco e quase irreflectido, vira-se com uma perna mais a frente, mais flectida que outra, os músculos contraídos, braço ao nível do tronco, o ante-braço estendido, palmas das mãos voltadas para a frente e de um gesto, um simples mas brutal gesto, abre a porta e chega a mais um dia de trabalho.

Apeteceu-me (como sempre)

6 comentários:

blimunda disse...

a ti já te conhecia. mas era de outras terras. de outro formato. e a essa tua expressão... apeteceu-me... que acho mesmo magnífica.

D disse...

adoro vir aqui ler os teus textos!parabens pelo teu sucesso :)
espero que te apeteca escrever assim muitas mais vezes.. *

Anónimo disse...

O sr.Kula virou Guerreiro Urbano, bem, bem, e esta hein...a tua capacidade de descrição, nem sei o que dizer, cinco estrelas Charles...o personagem então, tronco quase perfeito, abdominais definidos, hum...não é só o Miguel Angelo, tb eu gostaria de fazer dele o que quisesse e pudesse hihihi..fica bem
beijos

D disse...

Bem nem sei o que dizer alem de um sincero OBRIGADA,porque a tua opiniao e os teus elogios vindos de quem vêm sao muito importantes.
desejo-te mts felicidades nesse teu caminnho tao cheio de sucesso. 1 grnde beijinho

Unknown disse...

"A" nunca diga (A)deus ao que sentes, ao que gostas e aos teus ideais, permite-te dar a ti proprio bombons de ti a ti proprio, cute-te vive-te apaixona-te por ti, dá o salto que falta para a tua genealidade se libertar.

isa xana disse...

mais um texto bem escrito que so nos faz "despregar" o olhar do monitor quando termina a escrita.
as tuas descriçoes fazem-nos imaginar as cenas se desenrolando.

jinhu