sexta-feira, fevereiro 11, 2005

Mata do Medos ( receios )

Mata dos medos

(...) 8 da noite, o Sol começava a baixar, na Mata dos Medos, sentia-se a brisa do mar, ouviam-se as ondas a bater, estava uma temperatura amena de Primavera.
3 miúdos, atrevidos que faltaram a escola, andavam por ali, pelo meio do pinhal, a natureza que ao sol se mostrava estava agora a esconder-se, viam-se tocas de ratos de campo, zimbros, troviscos, medronheiros e carrascos, ouviam-se o chilrear de pássaros de muitas espécies, era um cenário pintado quase a mão, uma mata mandada plantar por D. João V, já naquela altura era assim que se travavam as dunas.
Aqueles 3 miúdos andavam a colocar visco nas arvores,(um suco glutinoso que se extrai da casca do azevinho, com o qual se envolvem as varinhas para apanhar pássaros), era desumano, ver os pássaros a lutarem contra aquele, suco que mais parecia ranho, aquele ranho esverdeado nojento acabado de sair das narinas de um carnautaro, ou de um tiranossauro, mas aqueles miúdos não pareciam ficar muito comovidos com o assunto, ficavam felizes riam-se do sofrimento, dos pobres pintassilgos.
Um melro, com o seu bico de cor de ouro, observava atento, o que se estava a passar, assobiava melodias tristes parecia estar a adivinhar o fim de alguns das sua espécie, mas, não se deixava enganar, o cheiro do visgo servia de repelente, ao melro.
A noite caia abruptamente, os 3 amigos viam-se de repente numa situação complicada, muito complicada, os pinheiros mansos pareciam fechar-se entre eles, que entrelaçavam as suas agulhas para taparem o céu .
Pouco ou nada se via, sentia-se o cheiro a maresia, mas adensavam-se outros odores, sentia-se o cheiro a medo, estavam ali os 3 parados costas com costas, formavam um tridente, ao mínimo movimento, os sons criavam ainda mais medos, os galhos a partirem-se debaixo dos pés, serviam para as cabeças ficarem geladas, os olhos encherem-se de sangue, o corpo ficar hirto, a pernas ficarem bambas.
Estavam , acagaçados, amedrontados, apavorados, naquela altura, a Mata dos Medos parecia estar em pequenos murmúrios.

- O mais novo do grupo, o João, pensava nas coisas que o irmão mais velho lhe costumava contar, no homem que raptava jovens para depois os comer, que geralmente se arrastava pelas matas, era um homem muito grande, vestia-se a com gangas e aproveitava-se do restos de trapos que encontrava por aqui e ali e, enrodilhava-os a volta do corpo, diziam que era Húngaro que, tinha vindo para Portugal para jogar a bola mas um desgosto de amor emaluqueceu-o e, comeu a namorava que o enganava, que a partir dai nunca mais foi visto sabe-se que anda pela Mata dos medos, que o seu cheiro nauseabundo o persegue e, quando o vento lhe dá de feição os cães uivam como os lobos.
O Irmão, lembrava-se ele também lhe disse que ouve uma vez um grupo de 3 miúdos que desapareceu, só encontraram um sapato sujo de excremento humano.
O João estava assustadissimo, ao mínimo respirar dos seus amigos, dos murmúrios da mata, do som da coruja, do cantar do melro, ele estremecia, no seu pensamento só queria sair dali, queria gritar, mas os seus lábios estavam imóveis , da sua boca não saia qualquer ruído parecia que estava cozida, estava completamente petrificado.

- O Rodrigo que era o mais espiritual do grupo, era um miúdo negro, de raizes profundas Africanas, os seus olhos lentamente começaram a cerrar-se, sentiu um formigueiro pelo corpo, começou a sentir a Mata, as suas Almas perdidas que esvoaçavam por ali tipo balões soltos a despejarem.
Começou a recordar velhos feitiços que ouvia contar lá em casa à sua avó, ela uma velha macumbeira, amada e odiada por todos, recordava de estar escondido na escuridão, afastava silenciosamente a cortina feita de uma velha manta ribatejana, feita de mil cores escuras que representam o campo a cor do campo, afastava a cortina que dava para o quarto da avó, o único quarto daquela casa que só tinha um inquilino, recordava de ver uma imensidão abrupta de velas, milhares de pontinhos de luz acesas e o curioso é que a luz não brilhava muito menos alumiava, ouvia os murmúrios da minha avó a rezar e a evocar demónios e espíritos para derrotarem a paz de quem ela odiava, esses pensamentos eram tão fortes que quando abriu os olhos, parecia ter uma névoa de sangue, e a sua frente levitavam velas acesas no meio uma enorme poça de sangue onde se juntava com uma cabeça de um galo, as suas patas cruzadas, ao longe parecia ver-se o galo a esvoaçar sem cabeça nem pés.

- O Manuel era o mais racional de todos, mas aquela noite, ou naquela noite, só lhe apetecia chorar, mas a lagrimas saiam secas, a força que fez para chorar, ele sabia que o choro afastava o medo, urinou-se pelas pernas abaixo, o liquido escorria por cima dos seus ténis fazia um pequeno canal em direcção ao mar, de repente a urina começo a evaporar-se, fez como que uma nuvem, que se foi transformando num pequeno demónio, primeiro a cara da sua antiga professora, depois em formas rápidas, a do seu vizinho que todos os dias o espancava quando saiam da escola, depois do cão do seu avô que o mordeu quando era ainda bebé, por fim do seu pai, o seu rosto fechou-se, parecia querer sucumbir aquele episódio, estava palido.

Os 3 continuavam imóveis de costas voltadas uns para os outros, um triângulo perfeito, no meio desse triângulo, desse tridente formado, pareciam sair sons de pessoas, os sons eram cada vez mais fortes, começaram a ver vindo de todos os lados luzes, temiam o pior o seu fim.
Afinal eram só pessoas, pessoas a sua procura, tudo não tinha passado de um sonho mau, quando os 3 se voltaram, lá estava o galo sem cabeça e sem pés a esvoaçar, lá estava o pai do Manuel, lá estava o Húngaro refastelado a comer.


Apeteceu-me

13 comentários:

Unknown disse...

Kal...tu és o meu maior alimentador de Ego...o meu Ego qd lê aquilo que escreves e comenta inchaaaaaaaaaaaa.
tanks my man...
abrações

Unknown disse...

Pummmmmmmmmmmm rebentei...."A" tu deste a estocada final ao meu ego, viva ....fico feliz, por muitas coisas, por saber que não são vazios nem ocos como se fdiz por ai da vossa geração e do que tenho vis lido, vcs são a geração dos génios

Anónimo disse...

Aí que susto!!! foi uma história de arrepiar Charles...foi como se estivesse a assistir a um filme de terror, e gostei muito da descrição que fizeste dos 3 miúdos, vi os ao vivo e a cores..cheios de medo e com uma vontade louca de fugirem dali a sete pés, sem olharem para trás...e depois, depois veio o climax final.. imaginei o com aquela música de fundo, de terror mm sabes, que vai aumentando e aumentando de décibeis, que nos faz suster a respiração até...the end
E depois claro vem os comentários finais..só isto, pensei que o fim fosse mais brutal...hihihi...enfim, é como no futebol "treinadores de bancada"
beijos
fica bem

Unknown disse...

O final depende da imaginação de cada um...ou por outra depende daquilo que se quer...para mim há «estórias » de terror bem piores, mas esta depende do realizador.

Anónimo disse...

Há gostos para tudo, mas não imagino outro final que esse que escolheste para os três...está mt bem assim...para as outras «estórias», é depende...da historia, das personagens, do realizador...mas eu escolho sempre um final feliz..pode não ser um " e viveram felizes para sempre" mas será certamente agora e sempre "a amizade acima de tudo"

Anónimo disse...

passei o tempo a desejar ver o fim, mas resisti,é daquelas historias apetece ler mais de que uma vez.
by sonia

isa xana disse...

vim agradecer os elogios aos meus poemas.
vim desejar um bom fim-de-semana.
vim dizer também que me recusei a ler este teu texto, não porque não goste da escrita, nada disso, mas sim porque já me apercebi que é uma história de terror e eu não gosto nada de histórias de terror=p
beijito

Unknown disse...

OLA, obrigado pela tua visita.Adorei teu blog mas voltarei com mais tempo.
bjs:))

Unknown disse...

OLA, quero ver mais escrita por aqui....:)
boa semana para ti.

Unknown disse...

OLA, quero ver mais escrita por aqui....:)
boa semana para ti.

mjm disse...

E eu que já vivi coladinha a essa mata!... O mundo é uma aldeia, Portugal é uma rua e a blogosfera é uma praceta ;)
Kisses, ó pessegão

Leonor disse...

obrigado pela visita. gostei do teu blog. texto bem escrito.

Anónimo disse...

MEDO,esse estranho,que nos segura e nos empurra no mesmo instante.
Gostei do forma simples e contagiante da narrativa,fiquei de olhos colados ao ecran.