terça-feira, janeiro 11, 2005

Pancada V

(..) Mas a grande verdade é que nem para um berro á minha mãe tinha coragem, tinha mesmo medo que a cabeça me saltasse para algum lado menos conveniente .
Enquanto nada acontece vou tentar desvendar os meus mistérios de uma noite que deve ter sido atribulada, podia tentar chegar lá pelo hálito, mas era um cheiro terrível a tabaco, misturado com pasta de dentes e a álcool que vinha do meu interior, não aquele interior, profundo e bom, aquele interior muito cristão, esse interior não fazia a mínima ideia de onde surgia, tinha de ser mesmo lá do fundo mas esse fundo a maior parte das vezes, não, não vou dizer, até porque não era esse fundo que fazia parte do imaginário colectivo, era um outro fundo, do fundo sei lá de onde, devia ser das antípodas do outro fundo .
Outra das coisas que me interrogava, era mesmo se as outras raparigas eram assim, como eu, ou se eu era mesmo a excepção a regra, tinha duvidas se havia muitas miúdas iguais a mim, com a mesma maneira de falar, de sentir, de fervilhar, de dizer, acreditem que eu sou muito durona, mas lá no interior sei lá naquele fundo, as vezes choro, por estas coisas, quer dizer, choro e não choro, alivia-me a alma.
Bom estes pensamentos cada vez estão piores, estou com a emoção a flor da pele,a emoção e a comoção se é que isso existe, estava aqui a recordar-me para ai no meu 6º ano estávamos todos a discutir na aula, aquelas conversas sectárias do costume, que o homem é melhor que a mulher e que a mulher faz isto, e tem bebés e que o homem tem bobós, e estúpido para aqui, parvalhão para ali, mentecapto para ali, fuinha para acolá , e eu lembro-me de dizer :
«Vocês tem a mania que são expertos e inteligentes, ainda gostava de saber quais são as vossas conversas entre rapazes»
a qual o Vasco respondeu:
«São as mesmas que as vossas, porquê devem pensar que são as supra suma da batata».
E lembro-me que me saiu assim um:
« As mesma que as nossas?!? Ai que ordinários».
Ainda hoje sou gozada por causa dessa historia, mas isto tudo para dizer que eu posso ser assim meio, como dizer, abrutalhada , meio pouco feminina nos actos, mas não devo ser a única.
Mas eramos umas espertalhonas, lá o nosso grupinho.
Tínhamos tácticas infalíveis para saber quem eram os rapazes que gostavam de nós , ás vezes envergonho-me do que andei a fazer, que horror, mas que resultava, resultava era tiro e queda, então montávamos guarda a porta da casa de banho dos rapazes e ia-mos ver as portas das retretes o que lá andava escrito, tipo Vasco Love Palmira, a Virgindade da Palmira mora aqui, coisas deste género e com uma fluência literária que metia dó ,de um português ,sei lá ,será que se pode dizer invernáculo ou cavernáculo?
Mas ouve uns escritos que lá vi fabulosos, nunca mais me esqueci, que eram :
« Eu f*** a Cameron Diaz,
Eu f*** a Inona Rider,
Eu f*** a Catarina Furtado
Eu f*** a Fernanda Serrano»
E depois por baixo estava com uma piada medonha:
« Tu f***-te foi a parede toda ao homem ».
Apesar de tudo nas paredes das casa de banho, dos rapazes liam-se algumas coisas interessantes, mas quem não se sentava naquelas retretes ai, era a filha do meu pai essa é que não era, bom mas eu pelo nojo, mas haviam de ver como pensavam muitas raparigas, naquela altura, quando aparecia alguma rapariga gravida, geralmente tinha sido por contagio, sim contagio tipo infeccioso , era sempre por artes magicas do acaso, aliás muito incesto devia de existir, ou era na toalha da casa de banho, ou na banheira .
Hoje rio-me com isso, aliás tem uma certa piada como pensávamos antigamente, era fantástico, mas os nossos pais também nos alimentavam essas ideias.
Só de pensar na falta de informação, deviam de fazer abortos a atirar pedras as cegonhas, meu Deus.

Apeteceu-me


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