quarta-feira, janeiro 19, 2005

Um dia Suave (conto)

Suavemente, o suor corria-lhe pela face, nada de preocupante, nem nada para preocupar.
O calor era tórrido, naquele dia de Verão, enquanto percorria o caminho de casa, com os olhos semi cerrados, tal era a luz do dia, a luz do sol .
O caminho era percorrido a passo quase de corrida, ao contrario da rotina diária de há muitos anos, que fazia aquele caminho calma e lentamente a pensar na vida.
Naquele dia, chegava da Cidade a sua amiga de sempre, há anos que ele não a via, mas todos os dias, todos eles, lembrava-se dela, do seu rosto, redondo como a Lua, maçãs do rosto ruborizadas, cabelos loiros escadeados, na altura por um cabeleireiro que tinha acabado de chegar de lugares longínquos, ela com o seu nariz empinado enfrentou o destino para uns, crueldade para outros.
Naquele passo, certo e decidido, ia doido para a ver, para sentir aquele cheiro que durante anos se arrastava na sua memória , um cheiro único a campo a uma alfazema ligeira, misturada com rosmaninho, quando se lembrava, crescia-lhe dentro da alma um sabor a Arco Íris, um incenso de nostalgia, mas hoje era mesmo de alegria.
Não fosse um arfar mais acelerado que o costume, ele soltaria um grito, a fazer lembrar os gritos de prazer em noites mais recatadas de paixão, apetecia-lhe gritar, mas não podia, iria fazer-lhe perder tempo, e perder o ritmo com que ia galgando a calçada.
Aproximava-se vertiginosamente de sua casa, naquele dia nem sequer ouve tempo para cumprimentar ninguém, nem a florista que todos os dias à mesma hora parecia pousar para o sol, nem o carteiro que todos os dias sai aquela hora da taberna, para falar com o sapateiro que a porta com os seus apetrechos apanhava a aragem da sombra que se formava por ali enquanto cosia meias solas, as mesmas meias solas durante semanas, fazia-o por prazer pela vontade de estar por ali a observar as “gentes” que entravam e saiam do café, ou quem estava doente e precisava de mimos para as suas doenças.
O coração pareceu parar, começou aos solavancos, começou a tremer, o nervosismo instalou-se estava diante de casa uma casa térrea caiada, estupidamente bem caiada, com contornos amarelos, uma amarelo sonho, naquela altura era o sonho de há muitos anos que se ia concretizar, pé ante pé, chegou a porta ,afastou o mosquiteiro, olhou para dentro da cozinha, o silêncio era enorme, ouviu uma enorme gargalhada, sorriu, sentiu o cheiro de sempre aquele cheiro bom, que o acompanhou durante aquela ausência e gritou bem alto o nome da sua Mãe.

(esteve para terminar assim :
(...)ouviu o seu nome bem alto, levantou a cabeça de cima da mesa em sobressalto e nunca mais comeu amendoins com sal)



Apeteceu-me

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