terça-feira, janeiro 18, 2005

Sentido unico em New Orleans ( conto)

Cinzento, cinzento como a alma, era a cor de mais um dia na industrializada cidade lá do Sul, de onde vinham os pássaros, hoje mais velho mais sabedor, sabia porque os pássaros voltavam, mas também sabia porque partiam sempre.
Naqueles dias cinzentos, na ameaça constante da chuva, sentia a falta da musica, aquela musica que outrora me enchia os meus espaços vazios, a Alma, o coração e até aquela angustia de ter perdido o silêncio dos tempos de menino.
Era a musica que me fazia falta, que fazia o ritmo do meu já tão desgastado e vivido corpo, sabia que desta vida pelo menos a « carcaça », não a levava para lado nenhum, que ficava com a alma, mas essa sabe Deus onde a queria.
Mas a musica!!
Angustiava-me a falta de ritmo no meu corpo, toda a vida me servi dessa energia para me movimentar, puxar por ele, agora parecia estar a espera de um dia, de um mórbido dia, de um dia em que a musica iria espalhar-me pelas ruas, em que a musica, se iria servir de mim e não eu dela.
Gostava de planear esse dia, gostava de o ver, mas sei,que é impossivel.
Quem acompanhar o meu funeral, vai tocar hinos e lamentos a caminho do cemitério,vão dançar de guarda chuvas abertos, as ruas vão parar para me olharem pela primeira e única vez, vou ser notado, vão ouvir a minha musica, os meus ritmos, a minha alegria, vou ser alegre uma ultima vez.
Gosto de pensar agora enquanto estou vivo, no meu funeral, nas ruas de New Orleans, afinal só tenho 20 anos.

Apeteceu-me

1 comentário:

Anónimo disse...

mais uma vez, gostei muito, faz-me pensar, o que é otimo, a musica faz-nos viver, sonhar, lutar por o que queremos...festinhas ao Gastão
by sonia